sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A guerra da CPMF

A CPMF que deveria ser um fato econômico, transformou-se numa aguerrida batalha política. Todos sabem que a oposição (no Senado) continua dizendo que não quer a renovação da CPMF para ir ganhando tempo e pressionar o governo Lula a fazer mais concessões. Pois se a discussão passar para 2008, aquilo que for aprovado só poderá ser implementado 90 dias após. Seria uma perda de receita substancial.

Essa possibilidade (e a enventual rejeição à CPMF pura e simplesmente) vem fazendo o Governo perder o contrôle. Durante a semana o ministro Mantega veio a público para dizer que se a CPMF não for prorrogada "novos impostos" cobrirão os R$ 40 bilhões perdidos. Em momento algum o ministro fala em "apertar os cintos" e reduzir as despesas o que faria qualquer empresa que perdesse receitas e tivesse que equilibrar seu caixa.

Ontem foi a vez do conhecido Lula (duro e raivoso) vir à TV para dizer que "quem teme a CPMF é sonegador".Como quem deve aprovar ou não a prorrogação da CPMF são os senadores, a declaração de Lula implica em acreditar que entre os Senadores da oposição há "sonegadores". Os sonegadores que de fato existem por esse Brasil afora, estão assistindo a discussão de camarote, visto que não fazem parte do processo. Aos empresários, que Lula também colocou como eventual sonegadores,a afirmação (ou insinuação) não faz sentido algum. Pois o empresário paga a CPMF para o banco(que transfere para o Governo) mas adiciona o valor pago no preço final dos produtos. Isto é, quem paga CPMF no Brasil é o consumidor pessoa física e nada mais.

Vamos ver até onde vai essa "batalha" política. Se , desta feita, o Senado joga realmente duro , não aprova a renovação da CPMF e deixa o Governo com problemas a resolver em 2008 ou, como quase sempre acontece, termina em "pizza". Um pouco mais de dinheiro aqui, cargos alí, e tudo fica em paz, com a conta ficando para o contribuinte.

Triste país este em que vivemos, onde temos um governo que só olha a linha de receitas (controlar ou cortar despesas não é com ele) e com políticos que ficam fazendo o "jogo político" que melhor interessa a eles próprios e aos seus partidos.Quando é que daremos um basta à esta situação ?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

LULA ; uma no cravo e outra na ferradura

Presidente Lula
Ontem tive oportunidade de assistir a um seu pronunciamento pela televisão que me deixou bastante animado. Se aquilo que o Sr. prometeu de fato acontecer, passarei a ser um seu novo admirador . Quando falava da reforma tributária que será enviada ao Congresso, o Sr. disse que não repetirá o êrro do passado quando a não aprovação da reforma tributária ficou como sendo por culpa do seu governo. Ontem o Sr. afirmou, com todas as letras, que se a reforma tributária não for aprovada desta vez, o Sr. vira á público para dizer quem foi o deputado, o prefeito,o ministro, o governador , enfim, nominará todos aqueles políticos que impossibilitaram a aprovação da reforma tributária (se tal vier a acontecer).
É isso o que o povo - e principalmente - a classe média quer do Sr. Que os políticos passem a ser responsabilizados pelos seus atos, publicamente.
Estarei, assim como milhões de brasileiros, torcendo para ver a aprovação da reforma tributária ( tão necessária para nosso país) ou quem foram os políticos que impediram que tal acontecesse. Na sua última tentativa, os governadores foram os grandes responsáveis pela reforma não sair, isto todo mundo sabe .Pois até descer a rampa do Palácio êles o fizeram, abraçados uns aos outros.
Enquanto meu coração fica cheio de esperanças para começar a ver um novo Brasil, não poderia , também,de deixar de dirigir-me ao Sr. com certa indignação por informações publicadas pela revista Veja neste domingo. Entre outros, a revista afirma na coluna Radar : "segundo assessores graduados de Lula, por puro preconceito a classe média "tradicional" estaria incomodada com a classe média "emergente", surgida neste governo. Isso explica a demagógica frase que Lula disse dias atrás ; TODA VEZ QUE A GENTE TENTA AJUDAR OS POBRES APARECE UMA CIUMEIRA".
Senhor presidente Lula, tais afirmações além de não condizerem com a realidade machucam o coração de grande parte da "classe média tradicional" que muito faz por este país para minorar o sofrimento daqueles menos previligiados. Nós dessa classe média - e pode colocar "milhões" quando falo em "nós" - colaboramos individualmente com creches, asilos, hospitais, casas de saúde, etc para que tais entidades de apoio aos mais carentes possam sobreviver, pois não há dinheiro do governo para cobrir todas essas necessidades. Bancos e empresas também dedicam trabalho e recursos financeiros para a mesma finalidade. Inúmeras ONG's no país fazem o mesmo tipo de trabalho, graças a dedicação da população e as contribuições desses hoje mais previlegiados, que têm como ajudar. Com qualquer pessoa que o Sr. fôr falar dessa "classe média tradicional", pergunte a ele ou ela, por favor, o que fazem pelo país, com seu trabalho ou seu dinheiro, para que os doentes e menos favorecidos tenham condições de sonhar com uma vida melhor. Todos estamos satisfeitos com o programa "fome zero" e jamais vi alguem da classe média com os quais convivo se queixar que também "não leva algum do governo". A crítica, às vezes, é de que o governo "dá o peixe ao invés de ensinar a pescar", mas entendemos que é difícil fazer tudo de uma vez.
Portanto, senhor presidente Lula, ajudar os pobres é uma missão de milhões de pessoas deste país de quem temos de nos orgulhar."Ciumeira" podemos ter em não ter acesso ou a comodidade do "Aéro Lula", mas jamais por vermos um pobre subir na vida. Eu mesmo senhor Presidente, Alcides Amaral, sou de origem humilde. Meu paí era um dedicadíssimo trabalhador que entregava leite de porta em porta na Vila Pompéia, aqui em São Paulo. Graças a ajuda da minha Mãe pude estudar(em escola publica pois não tinha como pagar escola particular) e Deus me deu a oportunidade de ser alguém na vida, assim como Ele fez com o Sr. Portanto, só tenho a agradeceer a oportunidade de estudar e trabalhar e construir uma família que hoje é minha razão de ser.
Fico triste e desapontado quando vejo o senhor Presidente acreditar que a "classe média tradicional" tem ciumeira pois a vida do povo está melhorando. Se essa fosse a realidade este país não teria mais jeito, mesmo que tivessemos dez presidentes iguais ao Sr. para nos comandar e dirigir.
Se há políticos que tem "ciumeira" do seu sucesso com o "povão", então, por favor, dirija-se a eles. Nós da classe média que trabalhamos para construir família e, dentro da possibilidade de cada um, ajudar os menos favorecidos, temos que ser respeitados.
Tenho orgulho de ser brasileiro, vou continuar lutando, dentro das minhas possibilidades, por um futuro cada vez melhor para este país, pois tenho filhos e netos que aqui estão crescendo e que aqui estão construindo suas famílias. Creio que essa não é apenas a minha verdade, mais a de milhões de brasileiros do bem.

Hoje teremos novidades

Depois de dois dias ausente ( a vida está difícil para todo mundo ) hoje estou de volta e mais tarde com um comentário enderreçado ao presidente Lula que creio que não devem perdê-lo. Por enquanto gostaria de desejar bom dia a todos e recomendar que leiam o comentário do Gabriel ( que vive nos Estados Unidos ) sobre meu artigo "O que esperar dos EUA em 2008". É curto mas bastante interessante. Pretendemos explorá-lo um pouco mais. Quanto à "bolha imobiliária", todos vimos pelos jornais que os mercados se acalmaram ontem pela noíticia de dinheiro árabe ( US$ 7,5 bi) no Citigroup. O assunto, entretanto, não termina por aqui . Tem muita coisa ainda a acontecer nos Estados Unidos (inclusive com os bancos) que terão ainda de amargar importantes prejuizos nos próximos trimestres. Voltaremos ao assunto com mais informações mas, por enquanto, "please, no panic".
Até mais tarde.

domingo, 25 de novembro de 2007

O que esperar dos EUA em 2008

Desde meus tempos de presidente do Citibank S/A, toda vez que ia para a Europa (mais especificamente Suíça) e conversava com nossos economistas sobre a economia norte-americana, o que ouvia era, geralmente, bem diferente daquilo que ouvia quando em New York. Havia um contraste de opiniões, às vezes, significativo que me deixavam confuso. Em qual cenário acreditar ? O cenário dos europeus ou dos próprios norte-americanos ? Problema insolúvel e parece-me mais preocupante com relação ao ano de 2008.

Não há dúvidas - de lado a lado - que o mundo crescerá menos em 2008, mais por culpa da “crise imobiliária” americana do que da “velha” e adormecida Europa. Os países do sudeste asiático, China e até os emergentes (incluindo-se América Latina) serão um espécie de “salvadores da pátria” para que o PIB mundial não sofra tanto no próximo ano.

Os norte-americanos estão preocupados com a situação do seu país. Dependendo dos analistas dos principais bancos comerciais e de investimento, o temor é maior ou um pouco menor, mas ninguém fala em recessão. Falam sim em recessão do setor imobiliário que continuará a colocar pressão no crescimento da economia. O problema se alastrará para mais alguns setores mas , aqueles mais otimistas, acreditam que “a confiança do consumidor” continua elevada , o dólar fraco favorecerá as exportações norte-americanas e a inflação está sob controle. Os prejuízos oriundos dos empréstimos “sub prime” foram apenas parcialmente reconhecidos pelas instituições financeiras (cerca de US$ 42 bilhões) o que fará com que os próximos três trimestres sejam difíceis. Há, entretanto, o próprio analista norte-americano menos otimista que informa que os prejuízos do “sub prime” são superiores a US$ 100 bilhões e terão que ser absorvidos pelo sistema financeiro. A verdade é que ninguém sabe exatamente qual o “tamanho” do problema e como as instituições financeiras reagirão para buscar novas receitas. O custo do crédito nos Estados Unidos já aumentou consideravelmente, os padrões de concessão de crédito hoje são muito mais “duros”, significando menos perdas mas ,também, menos receitas.

Ainda na ótica dos analistas norte-americanos, há os mais otimistas - Merrill Lynch, entre eles - que acreditam que o FED estará atento, as taxas de juros serão reduzidas em mais 50 ou 100 “basis points” nos próximos trimestres chegando até fim de 2009 a apenas 2,0% ao ano. A economia crescerá pouco e o risco da inflação, embora existente, não deverá criar problemas maiores. Portanto, quando o FED reduz a previsão da expansão dos EUA em 2008 de 2,75% para 2,5% parece que, mesmo para o norte-americanos, o Fed “está torcendo” para que isso aconteça.

Do lado europeu , como já dissemos, o cenário á ainda mais complicado ... e bota complicado nisso. A análise fria diz que os Estados Unidos estarão em recessão em 2008, a produção e a oferta de mão de obra serão reduzidas. Tudo por causa da “implosão” do mercado imobiliário. A revista inglesa, The Economist, é dura ao afirmar que “as boas notícias estão perto do fim. A crise do mercado imobiliário entrará numa segunda, mais perigosa fase. Os preços dos imóveis cairão mais aceleradamente, afetando a saúde financeira dos proprietários e paralelamente o comportamento do consumidor”. A revista vai além afirmando que “o resultado é provavelmente os EUA enfrentarem pela primeira vez, em quase 20 anos, a queda da sua economia ser originada pelos consumidores”.

Diante desse cenário, os EUA não crescerão mais do que 2,0% no próximo ano pois o problema de crédito (hoje restrito ao crédito imobiliário) poderá afetar a área de cartão de crédito, outros créditos para consumidores e , inclusive, o crédito por atacado. O Deutsche Bank estima que o valor total por prejuízos com os empréstimos “sub-prime” chegará à casa dos US$ 400 bilhões , dos quais US$ 130 bilhões pertencentes aos bancos. Alguns bancos possuem capital suficiente para absorver perdas adicionais - essa afirmação é minha - mas não resta dúvidas que se tais previsões forem verdadeiras, o FED terá muito trabalho em 2008 para manter o sistema financeiro norte-americano sob controle.

O que nos sobra de positivo nesse quadro negro e confuso, é que há uma espécie de consenso de que grande parte dos países emergentes sentirão o impacto da redução do crescimento econômico mundial em menor escala. Será um ano de desafio, inclusive para nós, mas tudo indica que os emergentes , desta feita, não serão a causa dos problemas mas , sim, poderão se beneficiar, de alguma maneira, dessa situação constrangedora. Mas esse é outro capítulo que fica para os próximos dias.

Portanto, o que esperar dos EUA em 2008. Difícil prever. Isto nos obriga a “apertar os cintos” pois a era de “céu de brigadeiro” chegou ao fim. E torcer para que os europeus estejam errados n as suas análises, o que será menos ruim para todos nós.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Lembrando Juca de Oliveira

Na coluna de hoje da Mônica Bergamo ( Folha) , temos uma pequena notícia que não podemos esquecer. Enquanto o brilhante autor e ator Juca de Oliveira tem que inventar situações para mostrar as mazelas dos poderosos e políticos, agora a sra. Maria Christina Mendes Caldeira, ex-esposa de Valdemar Costa Neto (que foi presidente do PL) está envolvida numa peça teatral que pretende estrear em agosto de 2008, pouco antes das eleições. O título - A Mala da Ex-Mulher -é por si só sugestivo. Se a sra. Mendes Caldeira realmente decidir "abrir a mala" teremos mais um prato cheio do que aconteceu em Brasília na época do "mensalão".Será certamente um espetáculo teatral de grande êxito de bilheteria, pois é a única chance que o povo tem para rir dos políticos. Porque , no dia a dia, só rolam lágrimas...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A arte de votar

Embora o Dia de Ação de Graças dos americanos tenha dado um pouco de sossego para nosso mercado ( na realidade um espelho do que acontece lá fora), as notícias por aqui na política continuaram correndo soltas. O Renan Calheiros continua licenciado e usando todas as artimanhas possíveis para não ser cassado. O PMDB agora ameaça ser independente, isto é, desligar-se do governo Lula. Dá par acreditar num PMDB independente depois do seu passado de um partido que servia ( e ainda serve) de suporte para alguém ( algum partido ) que oferece mais vantagens ? O Mares Guia aparentemente foi vitima do "mensalão mineiro".E por aí vai... a política no Brasil continua sendo um caso "sério", isto é, muitas vezes de polícia.
Portanto , vale neste final de dia mais uma das frases do ilustre brasileiro, Barão de Itararé, que dizia há,pelo menos, uns 40 an0s : "O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato."
Até amanhã.

Paz por um dia

Como hoje é dia do maior feriado americano (mais celebrado do que o próprio Natal), teremos paz por um dia, pelo menos no que diz respeito às notícias originadas na terra do Tio Sam. Se o mercado ontem assustou-se com a previsão do FED, que prevê que o PIB americano crescerá apenas 2,5% em 2008 ao invés dos 2,75% previstos, ficará mais assustado ainda quando outras previsões forem sendo colocadas oficialmente, especialmente quando elas são originadas em países europeus. À propósito, no nosso artigo de fundo da próxima semana, tentaremos efetuar uma análise da economia americana para 2008, considerando-se a visão européia e a americana e eventuais impactos na América Latina. Nada científico - pois economia não é ciência exata e também não somos economistas - mas que deverá traçar cenários para discussões.
Até lá, entretanto, mais notícias e/ou comentários estarão à disposição dos visitantes que nos prestigiam.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Ainda a "crise imobiliária"

Mais um dia de mercado volátil (isto, é altos e baixos que só os "experts" sabem explicar) dado o problema da "bolha imobiliária" dos Estados Unidos.Como "ninguém é de ferro" vale mencionar uma das frases famosas do Barão de Itararé, que é a seguinte : " O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro." Desta vez, infelizmente, êle errou pois o que se viu nos Estados Unidos foi exatamente o contrário : os bancos emprestando dinheiro sem saber para quem e porque mostrando um nível de incompetência poucas vezes visto no sistema financeiro(e ignorando os ensinamentos do nosso ilustre barão).
Ah , já sei porque os "gringos" trocaram as bolas ... o competente e inteligentíssimo Barão de Itararé, que nos deixou em 1971, escrevia em português....

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Citigroup ; "no panic"

Várias pessoas entraram em contato comigo para tentar saber o que está acontecendo com o Citigroup/Citibank e o que deveriam fazer. Embora minhas palavras fossem de conforto, decidi manter contato com um "senior" do Citigroup em NY e um "vice-presidente" da Merrill Lynch, também de NY.

Após uma longa conversa, podemos resumir a situação da seguinte maneira :
-o Citigroup sofreu o impacto do sub-prime e outras tansações ligadas ao mercado imobiliário e talvez tenha que efetuar mais uma provisão de crédito de cerca de US$ 10 bilhões no 4º trimestre ;
-paralelamente o Citigroup possue várias outras atividades que estão dando lucro (cartão de crédito, negócios com pessoas juridicas, franchise internacional etc) que farão com que a provisão não pese muito no balanço do banco. O 4º trimestre possue boas chances de terminar com lucro, apesar da provisão mencionada;
-o Citigroup anunciou para o mercado que pagará os dividendos normalmente , pois a caixa do banco não foi afetada ;
-para provar que o Citrigroup continua tendo crédito no mercado, em 2 dias foram vendidas pelo banco "prefered shares" no valor de US 1 bilhão ao custo de 7,875% ao ano. O custo foi um pouco alto mas o Citigroup pode recomprar esses papéis a qualquer momento. O investidor que quizer fazê-lo terá que vender o papel a custo de mercado e, dependendo das taxas vigorantes e a situação do banco, ganhar ou perder dinheiro. Minha aposta é que o Citigroup recomprará esse papel em alguns anos, quando a tormenta passar e as taxas de juros cairem;
-durante os próximos 3 trimestres (até meados do ano que vem) a situação dos bancos americanos ( e, obviamente, do Citigroup também) continuará sendo afetada pela volatilidade do mercado. Mais algumas provisões de crédito provavelmente deverão ser efetuadas até que o mercado volte a normalidade;
- nunca devemos esquecer que o Citigroup tem um Net Worth (capital) superior a US$ 120 bilhões, portanto, com bastante fôlego para enfrentar esses desafios:
- o grande problema pendente é a falta de liderança no banco, pois o novo "presidente" ainda não foi contratado. Temos uma pessoa vinda da Europa agindo como CEO e trabalhndo junto de Robert Rubin, cuja experiência não precisamos comentar;
-finalmente, há interlocutores no mercado internacional dizendo que está chegando a hora de comprar ações de alguns bancos que foram muito afetados. Estão"baratas" e devem reagir com os ajustes dos bancos.

Portanto, o objetivo deste comentário é afirmar para os visitantes deste blog e leitores em geral que "there is no panic", isto é, não há pânico algum. Podem ficar tranquilos com relação a estabiliade do banco e continuarem operando normalmente com o Citigroup/Citibank. Crises como essa já foram enfrentadas e superadas e tão logo o problema de liderança tiver sido definido o cenário começará a mudar.

Como ex-citibankense que fui fico triste em ver a organização passando por mais essa fase difícil mas estou confiante que a marca "Citigroup/Citibank" é forte o suficiente para nos deixar dormir tranquilos pois quem não dorme é o banco ..."The Citi Never Sleeps".

Reforma tributária

Um famoso ex-ministro costumava dizer ; "não se iluda meu filho, toda vez que o governo fala em reforma tributária é para aumentar impostos e não para diminuir".

Creio que, desta feita, êle estará errado. O projeto de reforma tributária que o presidente Lula promete enviar ao Congresso até o dia 30 não deverá aumentar impostos, pois já chegamos no límite da tolerância (e do bolso). Mas como o presidente já antecipa que o projeto não será o "ideal" mas "fáctivel e possível", já podemos antecipar que será um projeto de "mentirinha". Não por culpa exclusiva do presidente Lula (a boa intenção está mostrada no envio do projeto) mas pelos fatos.

Muitos haverão de lembrar que no seu 1º mandatato, o Presidente também trabalhou na reforma tributária, que foi derrubada pelos governadores. Foram TODOS à Brasília, desceram a rampa com o Presidente para fazer pressão para o Congresso NÃO aprovar a reforma tributária. Pois, quando se efetua uma reforma tributária de fato, alguém tem que ceder para que a soma dos tributos possa ser menor. Só que a União, Estados e Munícipios não estão muito dispostos a "perder" as receitas que já possuem.

Vejam o caso da CPMF. O presidente Lula afirma que o governo não pode viver sem esse imposto e os governadores querem, caso seja prorrogado, obter uma fatia desse bolo. Portanto, estão buscando mais receitas para fazer frente às suas despesas, que é a única coisa que cresce no Brasil, com certeza.

Paralelamente, a maioria dos Estados não cumpre a Lei Fiscal e , pelo menos, 16 deles gasta mais com pessoal do que o permitido. O que fazer ?

Diante desse quadro, acreditar que teremos uma reforma tributária para aliviar o bolso do consumidor é acreditar em "Papai Noel". Este é um comentário que gostaria de podeer retratar-me mais para frente, pois a reforma "deu resultado". Mas calejado como estamos com relação a tudo o que acontece em Brasília, só nos resta aguardar e torcer para que eu venha a ter uma grande surpresa (redução real de impostos ) e que o famoso ministro esteja bem errado nas suas antigas e tradicionais afirmações.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Citigroup ladeira abaixo

O banco de investimentos Goldman Sachs emitiu comunicado hoje recomendando SELL (venda) das ações do Citigroup. As ações do Citi já cairam 40% este ano e apesar da provisão de crédito de US$ 11 bilhões já efetuada, o banco de investimentos acredita que teremos mais prejuizos aí pela frente provenientes da carteira de crédito (inclusive sub-prime e "off balance sheet"). Certamente o Citi errou totalmente a mão na administração da sua carteira de crédito (a "cultura" de crédito sempre foi forte no Citi ...) e , quando tal acontece, não tem perdão. O que mais entristece a mim, que efetuei carreira de 46 anos no Citi e tudo que tenho devo ao banco, é vê-lo nessa situação e o Goldman Sachs considerar-se mais pessimista por "falta de liderança". O Citi que sempre foi um banco que se diferenciou pela sua liderança tanto no mercado interno quando externo (solução do problema da dívida externa dos países em desenvolvimento), passa agora por essa situação constrangedora de não ter na sua equipe alguém que claramente pode resolver ou encaminhar a solução dos problemas do banco.Quem não se lembra de John Reed e William Rhodes além do saudoso Mario Henrique Simonsen no Conselho ? Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro, é hoje o homem forte do Conselho de Administração, mas o president e(CEO) é interino e os "boatos" são de que o Citi estaria procurando alguém no mercado. Vamos torcer para que os problemas sejam resolvidos embora com um custo maior para seus acionistas. Gostaria de estar lá para poder ajudar (pelo menos esclareceendo a opinião pública do que está sendo feito para enfrentar os desafios) mas minha vez já passou e os tempos são outros.

O “fantasma” está de volta ?

No fim da década de 90 quando Fernando H. Cardoso era presidente e Pedro Malan o ministro da Fazenda , as conversas que tínhamos em New York eram interessantes. Vivíamos crises internacionais atrás de crises internacionais, até que a crise chegou ao Brasil no fim de 1988 e começo de 1999. Com o conhecimento que tínhamos, como presidente do Citibank, dos governantes brasileiros, tinhamos a certeza de que eles iriam cumprir os contratos da dívida externa recém assinada, que não haveria calote interno e que as dificuldades iriam ser superadas sem “surpresas” desagradáveis.

Diante de nossa firme posição de continuar apoiando o Brasil mesmo depois da desvalorização do câmbio em 1999, os “seniors” de New York sempre nos indagavam ; o que acontecerá com o Brasil quando tiver um governo de esquerda? As regras e os contratos serão honrados, ou teremos uma outra Argentina ?

Era uma pergunta difícil de responder pois o discurso do PT no país era “contra tudo que está aí”. O temor ficou evidente quando, em meados de 2002, Lula subiu nas pesquisas e o dólar chegou a quase R$ 4,00 . Era o “fantasma” de termos um governo de esquerda. Ninguém poderia imaginar o que iria acontecer.

Quando Lula assumiu o poder e deu continuidade ao Plano Real , o país acalmou. O dólar voltou rapidamente pois o “fantasma” desaparecera. Tínhamos um governo de “esquerda” e o Brasil continuava nos trilhos.

Vivemos um período de tranqüilidade com relação a continuidade do modelo econômico, o Brasil crescendo, os menos favorecidos felizes com o governo Lula. Tudo ia bem até que recentemente iniciaram-se os “boatos” com relação a um 3º mandato do presidente Lula, prontamente desmentido por ele. No começo deste mês o jornalista Boris Casoy escreveu, entre outros, na sua coluna do JB que “ao mesmo tempo surge um parlamentar petista, Devanir Ribeiro, copa e cozinha de Lula, e, num ato de “desobediência” ao amigo e ao patrão, lança a idéia de um terceiro mandato para nosso ilustre presidente”. Mais adiante afirma ainda que “Não tenham duvidas. Está no ar um processo golpista como nunca se viu antes neste país “.

O assunto - terceiro mandato - começou a fazer parte das discussões políticas até que na última quarta-feira o presidente Lula saiu em defesa de Hugo Chaves, afirmando que o presidente venezuelano não pode ser atacado por falta de democracia. Não bastasse, voltou a defender o presidente venezuelano das críticas por querer permanecer no poder no 3º mandato, cujo texto faz parte de reforma constitucional que será submetida a referendo popular em 15 dias. Isto é, Lula abraça todas as idéias e planos de Chávez de permanecer no poder o tempo que quiser.,

Enfim , estamos vivendo uma fase de transformação na América Latina e que começa a chegar perto de nós. O que Chávez realmente busca é uma espécie de “ditadura” em forma de lei, e o nosso presidente Lula parece concordar com esse modelo. Será que o “fantasma” de um governo de esquerda voltou de novo ao nosso país ? É simplesmente defesa a um amigo ou o apego ao poder esta fazendo com que nosso presidente queira também usufruir das delícias de Brasília por mais tempo ?

O que preocupa, na realidade, não é uma mudança constitucional que daria poderes ao presidente para um 3º mandato. O que nos deixa com um pé atrás ( ou com os dois, se possível ) é o porquê desse eventual interesse ? Para continuar fazendo exatamente o mesmo ? Parece que não. Seria a oportunidade de colocar em prática a velha ambição do PT de permanecer 20 anos como governo?

Vamos , pois, colocar as “barbas de molho” e ficar atentos aos movimentos futuros do PT e do presidente Lula . Seria um desastre para a economia se o “fantasma” voltasse novamente a nos assustar. O povo deste país não merece enfrentar nova crise gerada por nós mesmos.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Ações dos bancos americanos

Embora já tenha informado ontem que o problema não tem nada a ver com a dimensão que o Estadão deu na sua manchete de 2ª feira, queria simplesmente passar para os leitores o final de relatório recebido hoje da M.Lynch, que é o seguinte : "Em resumo, as implicações de colocar os ativos "nível 3" a mercado para as ações dos bancos já foram sentidas e o "dead-line" do dia 15 de Novembro não é aplicável a esses bancos."

Portanto, nada de novo "desastre" nos lucros dos grandes bancos americanos, mas a volatilidade do mercado vai continuar. As ações do Citigroup que ontem, durante a hora do almoço ,estavam subindo 5,0%, fecharam o dia com um ganho de apenas 1,5%.

De tudo isso, insisto, valeu a lição. Crédito é um negócio sério, os bancos americanos ignoraram o crescimento da "bolha imobiliária" e tiveram que pagar a conta. Um dos erros do Citigroup foi colocar um advogado como CEO. Fez excelente trabalho em tentar colocar a casa em ordem depois dos problemas da World Com,Parmalat, Enron, etc., mas aparentemente não deu atenção devida ao crédito pois não é sua especialidade. Mas o banco irá continuar sendo uma das maiores forças do mundo, pois possue uma "rede de agências" mundo afora e uma "cesta de produtos" que continuará crescendo e gerando lucro para a corporação e seus acionistas. Mas para quem foi citibankense como eu fui, dói ver tanto "mismanagement" .

Vamos virar esta página e nos ater aos problemas locais, que não são poucos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Ainda os bancos americanos

A Merrill Lynch acaba de emitir relatório sobre os resultados do 3º trimestre do Bank of America e projeções para o futuro. Como se sabe o BofA possue um total de "sub-prime" de US$ 14,9 bilhões, divididos em 3 categorias. Devido esse volume de ativos com problemas (que variam por categoria), a Merrill Lynch projeta um lucro por ação pela metade do que estava previamente estimado mas, mesmo assim, mantem a BUY opinion. Isto é, recomenda o papel para compra pois já sofreu bastante; o preço hoje está por volta de US$ 43 a ação e o "price objective" é US 52,00.

Portanto, na medida que mais informaçõe surgem a respeito dos problemas dos bancos americanos , a situação parece acalmar-se. É um problema legítimo, deve ser acompanhado com cuidado, para aqueles mais audaciosos talvez uma boa oportunidade de compra das ações desses bancos, mas a lição não pode ser esquecida.

Seria bom que todos (bancos e investidores) que foram atrás de papéis de baixa qualidade pelo retorno apresentado tivessem algum prejuizo, pois isto talvez ajudasse os bancos a serem mais cuidadosos na aprovação de crédito. Aprovar crédito é muito fácil, o difícil, na maioria das vezes, é cobrar.

A não ser que tenhamos fatos novos, cremos que o assunto está, por ora, esgotado.

Prejuizos com bancos americanos

O assunto levantado hoje pela imprensa com relação ao ajuste a preço de mercado dos ativos "nível 3" (todos os ativos dos bancos) é mais complexo do que parece. Certamente novos prejuizos deverão ser absorvidos pelos bancos americanos - possivelmente , também, alemães, ingleses, etc - mas o valor ainda é incerto e depende de inúmeras variáveis. Já alguns bancos se anteciparam, efetivaram ajustes e anunciaram prejuizos. Estão, portanto, mais confortáveis pois o impacto final será menor. Há outros que não fizeram o ajuste dos ativos "nível 3" e poderão ter que efetuar provisões maiores nos próximos dias.

Embora a notícia fosse bombástica ( pelo menos aqui no Brasil, pelo Estadão) e certmente na Ásia onde as bolsas caiam acentuadamente pela manhã, o impacto no mercado americano foi diferente. Como os 3 grandes bancos americanos ( Citigroup, J.P. Morgan e Bank of America ) assinaram compromisso de formar um fundo de US$ 80 bilhões para dar liquidez a esses titulos, o mercado acalmou. Na hora do almoço, as ações desses bancos subiam na Bolsa de NY. O mercado americano acredita que com esse fundo os titulos terão liquidez e, por consequência, seu valor de mercado será elevado. Portanto, bancos que já efetuaram provisões - a maioria deles o fez - estão mais tranquilos. O interessante desse processo é que o mercado está menos preocupado com bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley, pois embora tenham concentração maior nos ativos "nível 3" , já efetuaram provisões. Portanto,embora até o final desta semana todos tenham que efetuar tal ajuste no balanço, a verdade é que muitos já o fizeram e se tiver que haver complementação, o mundo não vai acabar.

As autoridades americanas - SEC e secretário do Tesouro - estão atentas aos problemas e acompanhando de perto o desenrolar dos fatos. A tendência não é colocar dinheiro público para aumentar o fundo ou socorrer bancos, pois isso precisaria de aprovação do Congresso, o que é um processo mais complicado.

Vamos ouvir falar mais sobre o assunto e continua mais do que nunca, valendo a lição; aquêles que ignoram os padrões de crédito para crescer e dar mais lucros, na maioria das vezes têm surpresas bem desagradáveis.

Crise tira até US$ 60 bilhões de bancos americanos

A manchete do jornal O Estado de São Paulo de hoje não deixa dúvidas que a situação dos bancos americanos continua complicada. Entretanto, se as perdas adicionais serão US$ 20 bi ou US$ 60 bi ainda ninguém sabe. O jornal informa que até 5ª feira a decisão precisa ser tomada, mas como hoje é feriado em NY não é possível confirmar.Em conversa que mantive com NY na última 6ª feira sobre esse assunto, me foi informado que, naquele momento, era impossível quantificar o valor dos "ativos nivel 3" ( esse é o problema), pois não havia mercado para esses ativos. Ninguém compra tais papéis, ninguém vende, portanto é impossível quantificá-los. De acordo com o " Financial Accounting Standards Board Statement 157" , as instituições financeiras podem contabilizar ativos a "nivel 3" quando o mercado não consegue, eficientemente, precificar esses ativos . Se o mercado é "eficiente" é uma decisão que o banco pode tomar; Em outras palavras, quando os ativos são "nível 3", os bancos podem efetivamente estabelecer o valor de tais ativos de acordo com seu próprio julgamento.


Os valores de ativos "nivel 3" são gigantescos em relação ao patrimônio dos bancos, e dependendo da decisão tomada (creio eu que a autoridade americana deverá estabelecer algum parametro, embora essa não seja a norma) os prejuizos serão gigantescos. Há banco de investimentos, por exemplo, que possue ativos "nível 3" superior seu patrimônio em 2,5 vezes.


É um assunto sério, que precisamos entender melhor antes de tecer comentários irresponsáveis e divulgar nome dos bancos com tais problemas. Esperamos voltar ao assunto amanhã, quando pudermos obter mais informações de NY. Por enquanto é aguardar que os mercados reajam mal a essa notícia, o que demonstra que o problema da "bolha imobiliária" dos Estados Unidos ainda não tem dia para terminar e nem quem serão os grandes perdedores. A verdade é que os presidentes da Merrill Lynch e do Citigroup já perderam seus cargos devido a essa concentração indevida num negócio de alto risco. Esqueceram dos padrões de crédito e, quando tal acontece, é dor de cabeça na certa.

Tem fumaça no ar !

O anuncio na 5ª feira da nova descoberta de petróleo na Bacia de Santos veio em boa hora, pois estávamos realmente precisando de boas notícias. Dependendo da nossa capacidade de investimentos e avanços tecnológicos visto que o petróleo e gás ficam abaixo de uma extensa camada de sal ( com o que não lidamos até agora ).Tendo êxito, ao redor da Copa do Mundo de 2014 estaremos aumentando nossa capacidade de produzir e exportar o “ouro negro” , passando a ocupar a 12ª posição no ranking mundial, logo abaixo dos Estados Unidos.

A euforia foi grande e merecida ( embora alguns afirmem que é notícia requentada ), mas a partir de agora voltamos aos nossos problemas do dia-a-dia que nos causam , por enquanto, uma ponta de preocupação. Temos fumaça no ar, que pode ser um cigarro aceso jogado ao acaso, ou o início de algo maior, mais preocupante.

A maioria concorda que o Brasil vai indo bem, crescendo, pois o mundo igualmente cresce e nos empurra para frente. A China ajuda com suas importações de commodities e os investidores inundam o país de dólares pois as oportunidades de ganho (empresas baratas, juros altos,estabilidade econômica, política e fiscal, etc.) são grandes. O problema é que no dia em que algumas dessas variáveis mudarem, o dinheiro vai embora na mesma velocidade que entrou.

Inicialmente, e talvez mais importante, são as perspectivas para a economia norte-americana. O presidente do FED afirmou no final da semana que o crescimento obtido até aqui não deverá se repetir no 4º trimestre assim como no 1º semestre de 2008.O problema do crédito imobiliário, ainda de acordo com Bernanke, se prolongará por mais algum tempo e a inflação vem sofrendo pressão indesejável. Alem disso os problemas com os bancos norte-americanos ainda não terminaram pois devem vir mais surpresas por aí. Como se vê é um quadro obscuro, e com os EUA andando de lado o mundo - talvez, com exceção da China - fará o mesmo. Assim, nosso principal motor - o crescimento mundial - pouco nos ajudará.

Não bastasse, o FMI faz duro alerta com relação aos gastos públicos do nosso governo. Segundo o Fundo, “o Brasil tem ainda um longo caminho pela frente em termos de melhora da sua situação fiscal”. Isto é, gasta mais do que deveria, o que faz com que a relação da divida pública e o PIB ainda seja bastante elevada.

Seguindo o mesmo caminho do Governo Federal , a maioria dos Estados estão deixando de cumprir a Lei Fiscal . Nada menos do que 16 estados gastam com pessoal mais do que a lei permite e, mais uma vez, nada acontece. O governo federal não corta suas despesas, e deixa de punir os estados que desobedecem a lei ( não esquecer que a Lei da Responsabilidade Fiscal foi um dos maiores avanços conseguidos até aqui). Para piorar ainda um pouco mais esse cenário fiscal, o Senado ameaça não aprovar a CPMF o que seria uma perda significativa de receita ( cerca de R$ 42 bilhões ) em 2008. As negociações continuam , os tucanos efetuaram um “laundry list” de 16 itens para que o governo cumpra em troca dos votos necessários, mas o certo é que essa negociação vai se arrastar ainda por algum tempo. Não é uma discussão econômica e sim uma batalha política. O que a oposição e as lideranças empresariais querem é impor uma derrota política ao presidente Lula.

Como o presidente Lula pretende fazer do etanol seu grande trunfo de curto prazo, temos barreiras sérias a enfrentar. Plantar cana, construir usinas e produzir o etanol sabemos fazer, e muito bem. O problema começa a existir quando temos que transportar o produto para o porto. Dentre 150 países analisados pelo Banco Mundial,o Brasil ficou em 61º lugar em ranking de logística comercial. Isto é, “enfrenta dificuldades para transportar mercadorias dentro do país e enviá-las para o exterior”.

Portanto, temos muito o que fazer para que a “fumaça” não seja apenas de um cigarro jogado irresponsavelmente no chão. Precisamos redesenhar o país, reduzir nossas fragilidades. Caso contrário o presidente Lula terá muitos motivos para reações acaloradas , como a da última semana quando questionado sobre o apagão do gás.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Lula reage como nos velhos tempos

Aquele presidente Lula tranquilo, risonho, mais na base "paz e amor" voltou ontem para seu temperamento agressivo, explosivo, que não gostamos de ver na TV. Revoltado com os insistentes comentários com relação a falta de gás, problemas futuros de energia etc., fez valer seu poder de comunicação que deve ter deixado o povão satisfeito. Mas demonstrou, claramente, que a nossa preocupação não é em vão, o presidente também começa a ser afetado com os "apagões" aéreos, do gás e, creio eu, pela batalha no Senado com relação a CPMF. A negociação está mais difícil do que parecia , os dias vão passando, e a tensão vai aumentando. Há uma "batalha" política em jogo - os R$ 40 bilhões envolvidos são uma consequência - sem data para terminar.

Como parece que ninguém em Brasília quer propor uma proposta conciliadora, levando em conta os interesses dos contribuintes, os próximos dias e semanas serão ricos em novos acontecimentos.

Portanto, que o presidente Lula esteja preparado para enfrentar essa nova realidade, pois na minha maneira de ver o futuro não parece tão roseo quanto o passado recente.
Voltaremos a esse assunto no nosso artigo de domingo do JB, e 2ª feira na Gazeta Mercantil e neste espaço.

O perigo chinês

Enquanto que diariamente temos notícias ruins ou contraditórias vindas dos Estados Unidos, lá do outro lado do mundo, na China, a história parece ser bem diferente. Grandes bancos norte-americanos estão com sérios problemas ( e não irão parar por aí ), a economia está ameaçando fraquejar e já há quem diga que os próximos trimestres o crescimento será baixissimo, muito mais perto de 1% do que dos 3,9% do terceiro trimestre recém findo. É um cenário que preocupa pois, queiram ou não, os Estados Unidos continuam sendo a locomotiva do mundo . O dólar em queda possibilita maiores exportações , o que causa algum alívio com relação ao emprego para os americanos.

Lá na China, entretanto, a situação é bem diferente. De acordo com a revista The Economist, o anuncio , em fins de Outubro,de que o Industrial and Commerial Bank of China compraria 20%do Standard Bank , no Africa do Sul, por US$5,6 bilhões , é um bom exemplo da nova estratégia de investimento da China. Com tais aquisições os chineses estão subindo calculados degraus em sua estratégia de longo prazo. Até recentemente as aquisições fora da China geralmente envolviam a obtenção da maioria das ações das companhias de petróleo, gás e commodities em mercados em desenvolvimento. De 2004 para cá os investimentos estão aumentando progressivamente e graças ao extraordinário volume de reservas internacionais ( acima de US$ 1,4 trilhões) em alguns anos a China estará espalhada pelo mundo todo.

Cuidado, pois, com o "inimigo" chines. Nossa balança comercial com eles ja está negativa e a tendência, com o real supervalorizado que temos, é a diferença aumentar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

CPMF ; situação complica-se

Com a decisão do PSDB em não negociar mais a prorrogação da CPMF ( querem muito mais do que o Governo está oferecendo), a situação complica-se para o presidente Lula.Temos dois perigos à vista ; o 1º é a prorrogação não ser aprovada pelas duas casas ( Câmara e Senado) até o fim do ano, o que fará que o governo perderá receitas no próximo ano. Isto porque, caso a prorrogação seja aprovada em 2008, terá que obedecer uma carência obrigatória de 90 dias para que ela possa ser cobrada novamente. Na melhor das hipoteses para o Governo, perderia 25% da receita anual de 2008.

Caso, entretanto, a prorrogação não seja aprovada ( as classes empresarias continuam batendo firme nessa tecla ) , aí o governo Lula terá que "encontrar" R$ 40 bilhões em outro lugar para cumprir seu orçamento. Como é um governo gastador , teremos problemas para cumprir com as regras da responsabilidade fiscal, um dos pilares da estabilidade economica pela qual passamos. A repercussão no exterior será grande ( problema fiscal novament à vista ? ) e o quadro de bonança a nosso favor pode modificar-se . Nunca devemos esquecer que se os investidores internacionais ficarem desconfiados ou preocupados com o que acontece aqui dentro em termos de estabilidade fiscal e econômica, na mesma velocidade que os dólares entraram êles voltam para seus países de origen. Portanto, é bom o Banco Central ir acumulando reservas enquanto a maré é favorável.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Evo Morales, please help !

Ainda está bem claro na memória de todos nós o dia em que o presidente de Bolívia, Evo Morales, estatizou a Petrobrás, definiu condições de pagamentos e novo preço para o gás. Nosso governo ficou revoltado, missões foram lá discutir o assunto mas, no fim, nada adiantou. O "ditador" boliviano fez o que queria e ponto.

Como Deus não tem ajudado o Brasil ( será que merecemos ser ajudados ? ) com as chuvas necessárias, algumas termoelétricas estão com problemas e a alternativa é supri-las com gás. Como não temos gás suficiente, cortamos alguns setores para que a energia não seja afetada. Pobre daquele taxista que comprou carro movido a gás ... teve que tirar férias em época errada.

Na falta de solução de curto prazo aqui no nosso território, lá vai o presidente Lula para a Bolivia no dia 12 de Dezembro negociar novos investimentos da Petrobras para que venhamos a ter a quantidade de gás necessária para movimentar nosso país, hoje em fase de crescimento.

O problema é que negociar com Morales não tem alguma validade juridica. Quem garante que dentro de alguns anos ele não tome a mesma medida e ficaremos novamente na mão. Temos que começar a escolher nossos parceiros e "amigos" pois não dá para confiar em Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales. O que será da Argentina nesse novo contexto ninguém sabe ainda dizer..

Portanto, nos resta agora pedir que Deus seja novamente benevolente com o Brasil e faça com que a chuva, até aqui ausente, volte a resolver nossos problemas. Como dizem que Deus é brasileiro , a esperança é a última que morre. Pois se dependermos de nossos governantes, teremos surpresas atrás de surpresas daqui para frente.

Portanto, Evo Morales, please, "help us this time, again".

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Citigroup muda comando em New York

Conforme já era previsto pelo mercado o sr. Charles Prince, presidente do Citigroup e também presidente do Conselho de Administração, não suportou as críticas pelas perdas enormes da corporação em sua carteira de crédito ligado ao mercado imobiliário (fala-sem em US$ 11 bilhões ) e renunciou, neste domingo a ambos os cargos. As ações do banco já não vinham tendo boa performance e, com os prejuizos anunciados, as quedas foram significativas.

O Conselho de Administração do banco decidiu, em reunião de emergência, anunciar o sr. Robert Rubin, que já fazia parte do Conselho da instituição, para assumir o posto. Novo presidente interino foi designado, mas o fato é que o Citigroup ja´não possúe um quadro de estrelas na sua administração como acontecia no passado.

O sr. Robert Rubin, que é ex-secretário do Tesouro norte-americano, esteve aqui no Brasil em 2000, quando o Citigroup completava 85 anos de Brasil. Tive a oportunidade de conviver com êle alguns poucos dias, pois além de reuniões internas, participou de um jantar comemorativo com clientes e viagem a Brasília para falar com o presidente Fernando H. Cardoso. É um homem extremamente capaz, responsável pelo que fala e faz e com pleno conhecimento da economia americana e mundial. Homem de forte personalidade que, esperamos, reincorporará no Citigroup a disciplina de concessão de crédito, que sempre foi a marca forte do banco e que, nos últimos tempos, sofreu abalos significativos.

É uma situação difícil que o Citigroup está passando e ainda irá passar, mas não temos dúvidas que com novo comando, saberá como superar os problemas. Segundo maior banco do mundo em ativos e primeiro em números de países onde opera, o Citigroup possue uma marca forte em qualquer parte do mundo.

Nossa expectativa - de ex- funcionário e presidente do Citibank S/A aqui no Brasil - é que o sr. Robert Rubin recoloque o Citi na posição de liderança que sempre ocupou.

CPMF , a voz do contribuinte !

Durante a aprovação da prorrogação da CPMF na Câmara dos Deputados o que se viu foi uma negociação acalorada entre Governo Federal e deputados da oposição para que o tributo fosse prorrogado por mais 4 anos. As bases são as mesmas (0,38% sobre a movimentação financeira do contribuinte) o que, fatalmente, tornará o tributo permanente pois os valores envolvidos em 2011 serão bem maiores do que os R$ 38 bilhões atuais. Foi uma festa em liberação de emendas e distribuição de cargos públicos aos senhores deputados para que o Governo obtivesse os votos necessários. Em momento algum, repito, em momento algum, o “contribuinte” foi lembrado. Ficamos, passivamente, assistindo a festa pela televisão enquanto nossos representantes satisfaziam seus interesses pessoais.

Com a ida do projeto para o Senado, as coisas ficaram mais difíceis para o Governo. Além de possuir minoria naquela casa, a oposição adotou a postura de “empurrar com a barriga” as negociações pois quanto mais perto do fim do ano chegamos, a situação fica mais crítica para o Governo. Se a CPMF for aprovada até fim de dezembro, já possue validade a partir de 2 de janeiro de 2008. Se, por caso, a aprovação ultrapassar dia 31 de dezembro de 2007, a validade do que for aprovado só acontecerá 3 meses após. Isto é, o Governo perderia um quarto dos impostos previstos para 2008. Desastre total para Lula e companhia.

Não é por outra razão que vemos diariamente o Governo trazer uma nova proposta de como atender os interesses dos senadores e governadores. Coisas absurdas são cogitadas - estabelecer limite por salário do contribuinte, por ex. - como se os bancos tivessem condições de prestar tal serviço ao Governo. O Sistema Bancário teria que fazer recadastramento de todos seus clientes para poder apurar qual o salário de cada um deles HOJE pois, por força dos aumentos espontâneos ou aqueles negociados com o Sindicado , AMANHÃ o salário já pode ser diferente.Outra colocação de algumas autoridades de Brasília, é incluir a prorrogação da CPMF no bojo da reforma tributária. Pior cenário possível não há, pois a reforma tributária - como deve ser efetuada - não aconteceu no 1º mandato do presidente Lula e não acontecerá neste segundo mandato também.

O que chama a atenção é que a “voz do contribuinte”, aquele que paga a conta, foi novamente ignorada. Os “defensores” do povo continuam ignorando os interesses daqueles que os elegeram. Daí sugerirmos que a FIESP, FIERJ OAB e outras organizações de classe se juntem à proposta do “contribuinte”, escalonando o imposto por 10 anos, com alíquota reduzida em 0,03% a cada ano, a partir de 2008. Assim, chegaríamos em 2017, quando a CPMF se tornaria definitiva, com a alíquota de 0,08%, para atender os interesses legítimos da Receita Federal de “flagrar” aqueles que burlam impostos.

Foi uma surpresa ler nos jornais de 6ª feira que os ministros Paulo Bernardo e Guido Mantega já estão efetuando alguns comentários nessa linha. O ministro Paulo Bernardo afirmou na Comissão de Constituição e Justiça que “eu defendo que a CPMF seja permanente, com redução das alíquotas”. Disse ainda que “manter o tributo é importante para o combate à sonegação” além de “gerar alguma arrecadação”. Já o ministro Mantega afirmou que “não vejo a possibilidade de extinção desse tributo em quatro anos.O que podemos é vislumbrar desoneração ao longo dos anos”.

Tais declarações soam como violino para nós que temos defendido exatamente o escalonamento por 10 anos. O governo deixaria de arrecadar anualmente R$ 3 bilhões (na moeda atual) , o que nos parece perfeitamente exeqüível para um país que tem um uma dívida interna superior a R$ 1,2 bilhões e que vê sua arrecadação elevada anualmente pelo crescimento da economia e pelo aumento da carga tributária. Neste ano de 2007, de acordo com o economista Amir Khair, a carga tributária deverá passar de 34,23% do PIB para 35,36% , sendo que a União abocanhará 87,2% desse aumento.

Parece-nos, pois, que estamos perto de um acordo, desta vez com a participação do “contribuinte”. Não veremos a CPMF ser extinta em 2008, mas teremos certeza que dentro de 10 anos ela será uma página virada na vida do povo brasileiro.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Entrevista na Radio Bandeirantes

Conforme programado, estive ontem pela manhã no estúdio da Radio Bandeirantes para participar do programa Gente, comandado do José Paulo de Andrade, Joelmir Beting e Salomão Esper. Foi um bate-papo agradável e mais agradável ainda rever os amigos da Band, onde trabalhei há 6 anos.

Consegui expor com clareza a proposta da "voz do contribuinte" com relação a prorrogação da CPMF e o resultado parece ter sido bastante positivo. Recebi e-mails de felicitações, a Rádio Bandeirantes recebeu outros mas a supresa mais alentadora lí no Estadão de hoje, dia 2/11.Vou transcrever apenas a chamada de 1ª página, que para mim é bastante positiva. Eis o texto :

"GOVERNO JÁ DEFENDE A CPMF PERMANENTE

Ficou clara a intenção do governo federal em transformar a CPMF em imposto permanente.O ministro do Planejamento , Paulo Bernardo, defendeu, ontem, no Congresso , a permanência do tributo "com redução das alíquotas". Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse não ser possível o tributo ser extinto em quatro anos : "Podemos vislumbrar desoneração ao longo dos anos".

Tais colocações são um indício de mudança de posição o que vai melhor esclarecido no nosso artigo deste domingo no Jornal do Brasil e 2ª feira na Gazeta Mercantil. Assim , aqueles visitantes que quiserem entender porque estamos um pouco mais otimistas, favor ler o artigo " CPMF, a voz do contribuinte" , aqui neste espaço, na 2ª feira, dia 5/11.

Bom final de semana !