sábado, 22 de dezembro de 2007

O início de uma nova etapa

“Senhor, dai-me serenidade para suportar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as que posso e sabedoria para distinguir umas das outras. Mas, dai-me Senhor, sobretudo, ânimo bastante para não desistir daquilo que eu penso estar certo, mesmo que seja sem esperança”

( Almirante C. Nimitz )




Com a chegada do Natal estarei saindo de férias e só voltarei às minhas atividades diárias no fim de Janeiro de 2008.

Essas longas férias não são devidas a cansaço físico , falta de ânimo de continuar lutando por tudo aquilo que acho correto , mas sim por um certo cansaço mental. O ano de 2007 foi , para mim, um ano difícil embora - felizmente - tenha sido melhor para grande parte da população brasileira, que teve mais comida na sua mesa , um pouco mais de esperança num futuro ainda mais promissor. E não é por outra razão que idolatram o presidente Lula, que mesmo criticado por muitos - inclusive por mim - fez a diferença para a parte mais sofrida da população.

Meu cansaço mental vem da constatação que poderíamos estar melhor do que estamos, que a corrupção cresce e se alastra para todos os cantos e que os políticos esqueceram que são os representantes do povo e nada fazem por ele. Para aqueles - como eu - que acompanham diariamente o que acontece no mundo e no País, fica a sensação de que continuamos a ser o último vagão do trem do desenvolvimento sustentado. Pouco aproveitamos da maré mundial a nosso favor para aprofundarmos nossos fundamentos, criarmos pilares sólidos para enfrentar qualquer tormenta que o futuro possa nos “premiar”. É certo que o “céu de brigadeiro” do cenário internacional chegou ao fim, 2008 será diferente para o Brasil. Pior ou melhor, depende apenas de nós. Da capacidade de gestão da cúpula de Brasília, da volta dos políticos ao trabalho e do vigor dos nossos empresários. Pois gente, trabalhadores e mão de obra qualificada, é o que não falta neste país.

Diante dessa realidade, decidi tirar essas férias prolongadas para repensar nesta nova etapa da minha vida. Continuarei mantendo meu blog ativo e minhas participações na imprensa escrita e falada ? Deixarei tudo de lado por um tempo e partirei para escrever meu segundo livro? Ou, partirei para novos projetos além daqueles que já tenho na minha vida profissional ( conselhos de empresas e ONG’s) ?

Essa dúvida veio crescendo ao longo das últimas semanas , quando percebi, com mais clareza, que a imprensa tem pouco peso - alguns órgãos mais outros quase nenhum - em relação ao que acontece em Brasília. A CPMF - um assunto econômico - foi decidida politicamente (primeira derrota política do presidente Lula). Mas, infelizmente, para mim pouco ou nada vai mudar. O presidente Lula ocupará os espaços na sua maneira usual, os reflexos da não prorrogação da CPMF se farão sentir nas decisões que o governo irá tomar. E quem pagará a conta, sem dúvida, seremos nós, o povo, os contribuintes. E será que é isso, questionando, na maioria das vezes, o que acontece em Brasília que quero continuar fazendo ? Por isso, preciso parar para pensar.Ou me engajo de vez na minha “veia jornalística”, ou o projeto de vida será outro.

Queria, portanto, agradecer todos aqueles que me prestigiaram esse tempo todo, que leram e comentaram meus artigos no Jornal do Brasil e na Gazeta Mercantil. Que mantiveram ativo o meu blog, visitando e opinando.


Grato, mesmo !


quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A hora e a vez dos empresários (3)

Neste último artigo da série referente a extinção da CPMF, vamos focar na atuação dos empresários e o que precisamos deles no decorrer dos próximos meses. Uma “batalha” foi ganha pela Fiesp/Ciesp mas, infelizmente, a “guerra” não terminou.

Para convencer a população e congressistas a concordarem com a não prorrogação da CPMF até 2011, foi elaborado um documento detalhando as razões pelas quais o governo não necessita dos R$ 40 bilhões envolvidos na discussão. No “sumário executivo” são alinhadas as diversas fontes de receitas adicionais para 2008, num total de R$ 55,7 bilhões, o que faz com que “a CPMF é absolutamente desnecessária para o País, bem como o orçamento, equilíbrio fiscal e investimentos da União”.

Embora nosso propósito não seja discutir o trabalho elaborado mas, sim, o que vem pela frente, não podemos deixar de mencionar que algumas das premissas utilizadas já correm risco de não ser totalmente concretizadas. O menor desembolso de juros no total de R$ 13,9 bilhões pagos pelo governo, seria uma conseqüência da “trajetória declinante dos juros”. No quadro atual, com inflação externa e interna e possibilidades de pressão adicional nos preços, fica difícil acreditar que a taxa de juro chegue aos 9,6% a.a. previsto pelo trabalho, O ganho adicional de R$ 7,5 bilhões na “revisão da taxa Selic” também corre o mesmo risco. E para finalizar, o trabalho prevê uma redução de despesas de pessoal na ordem de R$ 5,5 bilhões. Há espaço para essa redução, seguindo o raciocínio lógico do “paper” da Fiesp/Ciesp. O problema, entretanto, é outro : no DNA do governo Lula não existe traços de “redução de despesas”.

Confirmando essa afirmação, o BNDES acaba de efetuar aumento de salário de 20% para quase metade do seu pessoal, os quais foram contratados a partir de 1988 (cerca de 1000 pessoas foram beneficiadas de acordo com a Folha). Existe um racional para essa decisão (esses funcionários recebem menos do que os mais antigos) , mas seria a hora de fazê-lo ? O governo não precisa ajustar suas despesas de custeio para fazer frente a perda da CPMF ?

Continuo defendendo minha tese de que a CPMF deveria ter sido prorrogada por 10 anos, com redução anual da alíquota em 0,03%, chegando a 0,08% em 2017, quando passaria a ser definitiva para dar à Receita Federal o instrumento que precisa para não deixar escapar os sonegadores. Em conversa que mantive pessoalmente, há alguns anos, com o então secretário Everardo Maciel, ele informou-me quão importante era a CPMF para flagrar os sonegadores. Pessoas cujas declarações de Imposto de Renda mostravam rendimentos e patrimônio baixíssimos, mantinham um giro bancário algumas vezes superiores ao que declaravam. Esse é, pois, um problema que não ficou resolvido com a simples extinção da CPMF. Creio que utilizando-se a proposta acima, o Governo teria condições de cumprir seus compromissos sem maiores problemas (deixaria de receber R$ 3 bilhões a menos anualmente, em moeda atual) e os contribuintes ficariam livres do imposto gradativamente, sem sustos.

É óbvio que não pagar mais nada daqui para frente parece ótimo para o contribuinte. É colocar mais algum dinheirinho no bolso direito .... quanto vai sair do bolso esquerdo ainda não sabemos.

A primeira indagação que fica é se os empresários irão reduzir os preços com a eliminação da CPMF, pois quem paga esse tributo é o consumidor. Alguns se queixavam que, na sua cadeia produtiva, tinham que pagar 5 ou 6 CPMF’s. Isto significa dizer que os preços devem cair mais acentuadamente nesses produtos. Enfim, o dinheiro que ainda é pago através a CPMF vai voltar para o bolso do consumidor ou irá aumentar o lucro das empresas?

Outra premissa defendida por alguns é que com a extinção da CPMF, o povo terá mais dinheiro no bolso e aumentará o consumo. Como a maioria da população brasileira recebe salários baixos, a economia com a CPMF é pequena e, portanto, pouco significará na capacidade de consumir. Aqueles que pagam mais CPMF, pois possuem situação privilegiada, não irão mudar seu padrão de consumo devido a essa receita adicional. Possuem muito mais para gastar, se quiserem, independentemente da CPMF. Portanto, muito pouco mudará no padrão de consumo do brasileiro.

O que me preocupa - e aí espero que a Fiesp/Ciesp atuem com a mesma energia - é que o governo virá com impostos/contribuições adicionais para ajudar a cobrir o “rombo” da CPMF. Se tivermos a tão falada reforma tributária, podem crer que será para aumentar a carga tributária e não para diminuí-la. Mesmo porque os governadores já provaram que são contra a redução de impostos pois também afetará os seus bolsos.

Enfim, encerramos aqui essa série relativa ao assunto “CPMF” para não azedar mais o paladar do povo brasileiro e, especialmente, os contribuintes. Será um ano de muita disputa política, que não sabemos qual será o capítulo final. O presidente Lula parece não estar muito preocupado com o “rombo” (sabe que o dinheiro virá de algum lugar) , pois acaba de anunciar investimentos de US$ 1 bilhão na Bolívia. E assim vamos tocando nossas vidas, na expectativa de que as coisas, um dia, irão melhorar. Que poderemos confiar naqueles que elegemos para nos comandar.

Mas está ficando cada vez mais difícil...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O impacto econômico (2)

Perdida a batalha política no Senado que disse “não” para a prorrogação da CPMF, o presidente Lula tem agora que enfrentar o desafio (pequeno para muitos, pois o governo tem arrecadação em excesso) de viver sem os R$ 40 bilhões orçados para 2008.Como o governo tinha como favas contadas a prorrogação por mais 4 anos do discutido imposto, terá que refazer suas contas rapidamente pois 2008 já está aí batendo na porta.

Diante dessa desagradável surpresa, o que se esperaria de um governo atento às suas despesas, seria ver o presidente Lula reunir a cúpula da sua administração e solicitar estudos urgentes para uma profunda reforma administrativa. Por exemplo, reduzir dos mais de 35 ministérios e secretarias com “status” de ministério, para 15 ou 20 ajustando suas despesas à nova realidade. Se algo nessa linha fosse efetuado, certamente o presidente Lula perderia alguns votos em Brasília, mas ganharia a simpatia e o respeito de uma grande parte da população brasileira. Temos burocracia demais, cargos demais, gente demais, fazendo tudo aquilo que antigamente era feito com menos pessoal.

Entretanto, como Papai Noel não existe o corte de despesas de custeio, se acontecer, será pouco significativo. Está no DNA deste governo não ter muita preocupação com as despesas, pois a receita virá de uma forma ou de outra.

Portanto, o impacto econômico pela perda dos R$ 40 bilhões será muito mais sentido pela sociedade do que pelo próprio governo. Emendas de parlamentares serão cortadas, atraso na liberação de verbas para ministérios, governo e municípios certamente farão parte do cardápio inicial. Novos impostos e/ou contribuições serão criados ou alguns deles, atualmente existentes, terão sua alíquota aumentada. Os projetos de infra-estrutura em andamento sofrerão atrasos, o custo Brasil continuará a ser um grande pesadelo para quem precisa movimentar sua produção. Os empresários - que lutaram arduamente pela extinção da CPMF - serão chamados a dar sua parcela de contribuição nesse esforço de reajuste nas contas do país. Anuncia-se que o “superávit fiscal” para pagamento dos juros da divida interna será mantido, o que nos parece fundamental. Caso o governo, por dificuldades de preencher o buraco deixado pela falta dos R$ 40 bilhões, vier a reduzi-lo será um verdadeiro “tiro no pé”. Seria uma medida condenável interna e, especialmente, externamente, a qual poderia mudar o humor dos investidores com relação ao Brasil. Esse assunto é delicadíssimo, não nos é permitido “fazer política” com ele.

De outro lado, espera-se que a economia continue crescendo, gerando mais receitas para o governo e minimizando o problema. Embora as perspectivas para a economia em 2008 não nos pareça tão atraente quanto o foi em 2007, deveremos continuar crescendo a níveis satisfatórios, apesar da inflação andar nos rondando perigosamente

Como se vê, na ótica de quem esta naquela situação de “pagar para ver”, o que deslumbramos é um ano de 2008 com maiores dificuldades, com o Senado sendo responsabilizado pelo corte abrupto da CPMF (o que eu, particularmente, também condeno). Na minha ótica, uma extinção gradativa, com redução da alíquota anualmente em 0,03%, faria com que dentro de 10 anos estivéssemos com a alíquota de 0,08%, que se transformaria em definitiva, pois daria à Receita Federal o instrumento que precisa para flagrar os sonegadores. Essa seria uma solução econômica viável para contribuintes e governo, que deixaria de arrecadar R$ 3 bilhões por ano, em moeda atual. Como, entretanto, a batalha foi “política”, a ninguém interessava uma proposta de consenso, daqueles que pensam no que é melhor para o país ao invés de colocarem seus interesses particulares e partidários em primeiro lugar. É bom que os “vitoriosos senadores” não se esqueçam que o presidente Fernando H. Cardoso também prorrogou a CPMF, quando o valor era bem menor, pois, segundo ele, “não poderia viver sem aquela receita”. É a tal de “metamorfose ambulante” a qual o presidente Lula se referiu, recentemente.
Sou de opinião, portanto, que o “impacto econômico” da perda da receita da CPMF será difuso, e o governo não perderá oportunidades para apontar culpados quando o dinheiro faltar. A “saúde”, tão falada nesses dias, deverá pagar uma parte da conta, o que é lamentável. Num país pobre como o nosso, investimentos em saúde e educação são essenciais. Em Brasília, entretanto, o “jogo político” vem em primeiro lugar.


Obs. o próximo artigo desta série “CPMF” será publicado 4ª feira neste espaço.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A derrota política (1)

Como primeiro artigo desta série sobre a rejeição da CPMF pelo Senado Federal, não poderiamos deixar de começar pelo - no nosso modo de ver - único fator positivo dessa disputa que se arrastou por meses em Brasília. A derrota política que 34 senadores impuseram ao presidente Lula, foi o fator a ser, teoricamente (mais abaixo explico porque), comemorado pela sociedade. Aquela postura autoritária e de imperador do presidente Lula foi abalada, pois parecia inimaginável que depois da fácil aprovação na Câmara o governo sofreria o revés que sofreu no Senado Federal.

Embora governadores da oposição ( José Serra, Aécio Neves, etc) tenham se posicionado a favor da prorrogação da CPMF pois vislumbravam mais dinheiro para seus estados, os 34 senadores não arredaram pé e foram até o fim.

Na realidade, um ato de heroismo desse grupo de parlamentares que "não estavam à venda por dinheiro nenhum". Queriam a derrota política do presidente Lula, que ele respeitasse e dialogasse mais com o Congresso e deixasse de ser um ser ausente das grandes discussões do país.

Na teoria, tudo perfeito. Lula sofreu sua primeira importante derrota política que custará caro para o governo e para a Nação. Ficou sem os R$ 40 bilhões que já estavam no seu orçamento de 2008 e agora terá, juntamente com sua equipe econômica, de enfrentar o desafio de efetuar um ajuste de contas não previsto. Lula, como sempre, acreditava no seu carisma e no seu suporte popular para vencer qualquer batalha na Câmara e no Senado. Não levou a sério as dificuldades enfrentadas no Senado até os últimos dias e, aí, ficou dificil, ou melhor, impossível reverter a situação.

Portanto, o que se espera é que depois dessa derrota política o presidente Lula mude seu comportamento, dialogue mais com os congressistas, arquive sua postura de imperador. Finalmente o Brasil ganhou, mostrou que temos uma democracia de fato, e as coisas deverão melhorar daqui para frente com cada qual exercendo seu papel.

Isto é o que todos esperam, essa é a teoria de que falei acima mas, eu aqui com meu botões, creio que, na prática, pouco ou nada vai mudar.

Primeiro porque o presidente Lula, vencedor que é, tem seu modo de pensar e agir e não parece que vai recuar no primeiro revés. Foi derrotado três vezes na luta para a presidência da República, mas conseguiu vencer na terceira quando muitos consideravam impossível. Dizia-se, até, que existiam apenas duas verdades em política : a primeira, que Lula seria candidato à presidente da República; a segunda, que ele perderia !

Segundo, por ser uma pessoa que se fez por si só e chegou à presidência da República por méritos próprios face ao seu carisma e sua liderança, não vejo que é agora que irá mudar. Muita coisa será dita para jogar a culpa dos problemas que teremos que enfrentar nos ombros dos 34 senadores que tiveram a coragem de enfrentá-lo.

Last but not least, Lula continua sendo idolatrado pelo povão e na última pesquisa CNI/Ibope a aprovação do seu governo subiu de 63,0% para 65,0% da população brasileira. Só 30,0% (a elite e parte da classe média) desaprovam Lula , como presidente.

Portanto, baseado nesse importante cacífe político, saberá fazer com que essa população que o aprova não seja atingida pela rejeição da CPMF e, se por acaso o fôr, a culpa será da oposição que lhe tirou o pão das maõs.

É pagar para ver. Como o período de "céu de brigadeiro" já havia acabado, as nuvens negras chegaram mais perto de nós e o Governo será colocado à prova do que é capaz de fazer em ambiente desfavorável. Mas, para mim, uma coisa parece certa, Lula continuará sendo o Lula que conhecemos, com agressivos discursos de improviso , tudo aquilo que o povão quer ver e ouvir. Desde que a "bolsa-família" e os programas sociais não sejam afetados ( e eles, dificilmente, o serão) , Lula não será igualmente afetado, para desespero daqueles que tiveram coragem de enfrentá-lo.

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Obs ; o segundo artigo da série será publicado na 2ª feira, dia 17 de dezembro.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A CPMF e suas implicações

Prezados visitantes
A partir de amanhã estarei escrevendo um artigo diário ( por uns 3 ou 4 dias ) analisando/comentando as várias implicações da não aprovação da CPMF pelo Senado. O assunto é importante, tem várias vertentes e pretendo dar meu parecer sobre cada uma delas. Serão comentários de minha inteira responsabilidade, baseados na minha experiência de executivo de uma multinacional e que conviveu longo tempo perto dos governos( exceto do governo Lula, pois já havia me aposentado). O assunto é mais complexo do que parece à primeira vista, creio que foi um êrro econômico a simples não aprovação da prorrogação da CPMF, como também estou convicto de que a prorrogação por mais 4 anos, como queria o Governo, também seria um ato para ser criticado.
É um exercício que farei junto com aqueles que me prestigiam neste espaço e dos/das quais gostaria de obter comentários,críticas ou sugestões depois do término dos artigos ou durante o processo.
Abraços
Alcides Amaral

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O FED na encruzilhada

O FED ( Banco Central Norte-Americano) reduziu ontem a taxa básica de juro em 0,25 pontos percentual, trazendo-a para 4,25% ao ano. O "mercado" não gostou, reagiu mal e derrubou as bolsas de valores. O "mercado" esperava por 0,50 pontos percentual, para dar mais um pequeno alívio na crise imobiliária que afeta o país.
O FED certamente gostaria de fazê-lo, ser mais agressivo e com isso diminuir a tensão existente no mundo todo pelos desdobramentos da "bolha imobiliária".
Entretanto, como responsável que é ( assim como o Copom aqui no Brasil ) pelo controle da inflação, a decisão não poderia ser outra. O aumento do custo da energia e dos commodities é uma realidade que já começa a dar sinais que preocupam e, portanto, a política monetária tem que ser administrada com extrema maestria. A revista inglesa "The Economist" tem como matéria de capa esta semana o seguinte ; "The end of cheap food". Isto é, o período de comida barata está no fim o que vai requerer muito mais atenção e cautela dos bancos centrais do mundo todo.
Portanto, como se vê, o FED está numa encruzilhada. Tem que baratear o custo do crédito e dar mais liquidez ao mercado para que a "crise imobiliária" não se alongue por mais muito tempo. Se , entretanto, assim agir, poderá estar jogando lenha na fogueira da inflação, que ainda não é um problema hoje, mas pode ser no próximo ano. A decisão do presidente Bush - de duas semanas atrás - de congelar os juros do financiamento de mais de um milhão de moradias da categoria "sub-prime", é uma alternativa para evitar a evidente encruzilhada que os condutores do FED se encontram.
Portanto, como já dissemos em comentário anterior, a fase de "céu de brigadeiro" terminou, a volatilidade continuará presente nos mercados e cada um dos investidores tem que pensar bem o que fazer com seu dinheiro para não ter surpresas desagradáveis.
O importante para todos nós é que o FED consiga encontrar seu rumo, mantendo a inflação sob contrôle e não deixando a "bolha imobiliária " levar a economia americana para a recessão. Em 2008 o mundo crescerá menos e a intensidade da queda dependerá do comportamento da economia do Tio Sam.

Citigroup anuncia novo comando

Impactado fortemente pela "bolha imobiliária" americana, o Citigroup não perdeu apenas dinheiro mas também seu , até então CEO (presidente), Charles Prince. Como aparentemente não encontrou ninguém disponível no mercado com capacidade para enfrentar os novos desafios ( reorganizar as finanças, custos, e controles do banco) nomeu dois funcionários do "alto escalão" para tais tarefas.
Vikram Pandit, de origem indiana, foi designado novo CEO e o europeu Win Bischoff passa a ocupar a posição de "Chairman" da grande organização americana. O lado positivo dessas escolhas é que, sendo já altos funcionários do Citi, conhecem bem os problemas e poderão agir mais rapidamente. O lado negativo dessas escolhas - e que está sendo criticado por analistas internacionais - é que tanto um como outro não possuem experiência no "consumer business" (negócios com pessoa física) que representa cerca de 50% dos lucros do banco.
De qualquer forma, agora o Citigroup não é mais uma organização "sem comando" e já para principios de 2008 (ou, até, antes disso) poderemos sentir as ações dessa nova equipe. Por certo o Citi fará corte profundo de despesas, com redução de pessoal, corte de bonus e, possívelmente, não pagamento de dividendos. Como o Citi já havia prometido que iria pagar dividendos este ano, caso mude de postura ( que é salutar para o caixa da organização) o mercado deverá receber essa medida de forma negativa e com desconfiança.
O certo é que o Citigroup é o 2º maior banco do mundo, já passou por problemas semelhantes e piores no passado, e sempre teve forças e suporte para dar a volta por cima. Como a "bolha imobiliária" formou-se pela irresponsabilidade dos banqueiros e pela falta de fiscalização adequada por parte do FED ( Banco Central Norte-Americano) , o problema é de todos eles. O presidente Bush deverá esquecer, por enquanto, dos problemas do Oriente Médio e concentrar seus esforços na arrumação do setor imobiliário americano bem como da economia do país.

domingo, 9 de dezembro de 2007

“Metamorfose ambulante”

Depois de afirmar, alto e bom som, que só os sonegadores e o DEM eram contra a aprovação da prorrogação da CPMF, o presidente Lula surpreendeu a todos que participavam da cerimônia de lançamento do PAC da Saúde na última semana. No seu estilo tradicional de efetuar discursos de improviso, afirmou que não tinha vergonha de dizer que quando do governo Fernando H. Cardoso ele era contrário a prorrogação do CPMF. E foi além dizendo que não se incomoda de ser chamado de “metamorfose ambulante” por ter mudado de opinião. Referiu-se a uma música de Raul Seixas, que trata do tema.

Como diria um amigo meu de infância, toda vez que tomava uma “botinada” no jogo de futebol: “essa doeu”.

Quando o próprio presidente da República assume “não ser um patriota”, pois não vota no que é melhor para o país mas sim o que é melhor para os seus companheiros e seu partido, o que podemos esperar da classe política. Vereadores, deputados e senadores que elegemos passam a ser todos, com algumas exceções, “metamorfoses ambulantes?”. Qual a agenda do dia? O que quer o nosso partido? Não importa que tal posicionamento não seja o melhor para o país? Ora, o que vale mesmo, no fim do dia, é estar surfando na crista da onda.

Pobre Brasil que , infelizmente, precisa do Congresso para fazer o país andar. Pior ainda quando o presidente, que veio do povão e é o líder inconteste desse mesmo povão, auto-intitula-se de “metamorfose ambulante” com uma honestidade de deixar-nos atônitos.Que respeito a classe média e aqueles mais favorecidos (e que entendem um pouco melhor do que acontece ao redor do poder) podem ter por seu presidente quando não sabemos com quem estamos realmente lidando?. Amanhã não poderemos ser surpreendidos com uma outra “metamorfose ambulante” defendendo um 3º mandato, o que tem sido negado até aqui? Qual a garantia que podemos ter - se as coisas ficarem mais difíceis nos próximos meses e anos - de que o Presidente não voltará às suas origens, fazendo renascer a cartilha do PT ?

Quero crer, honestamente, que essa declaração não tenha passado de um equívoco verbal e foi mais uma das frases mal colocadas pelo presidente Lula. O que precisamos hoje é de paz e de um regime democrático cada vez mais fortalecido para podermos almejar um futuro melhor para nossos filhos e netos. O Brasil é um país abençoado, que tem sol, água e terra o que lhe permite vislumbrar um futuro mais promissor e menos desanimador para seu povo. É preciso, pois, que os políticos também entendam essa realidade, auxiliem no processo de desenvolvimento e que nosso presidente, seja ele qual for, nos faça sentir orgulho de ser brasileiro e não nos incline em que transformemo-nos também em “metamorfoses ambulantes”.

Presidente Lula, faça algo tão logo quanto possível para livrar-nos desse mal estar atual, que é de sermos liderados por uma “metamorfose ambulante”.


Essa doeu, demais!

Objetivos deste nosso Blog

Prezados/as visitantes
Gostaria de esclarecer para todos/todas que prestigiam este blog, que nosso objetivo não é ser dono da verdade. Temos nossa opinião, que manifestamos de acordo com nosso consciência (este é o único padrão que nos rege). Isto não quer dizer que nossa opinião é melhor ou pior do que de ninguém. O que pretendemos é colocar claramente como vemos as coisas acontecendo aqui e no mundo e dar espaço para o visitante concordar ou discordar. Solicitamos, entretanto, que sejam discutidos o conteúdo dos artigos, comentários ou notas e não a pessoa ( que sou eu) que escreve tais comentários. Da mesma forma em qualquer eventual crítica será levada em conta o conteúdo recebido e não faz difereça quem escreveu .... todos somos iguais nesse processo. ninguém é melhor do que ninguém.
Queremos prosseguir no nosso trabalho conquistando a simpatia dos que nos lêem pelo conteúdo dos comentários e não pelo fato de ser jornalista formado ou ex-presidente do Citibank. Esta é uma nova etapa da nossa vida, e pretendemos continuar prestando serviços a todos aqueles que nos acompanham.
Grato
Alcides Amaral

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Os bancos e a internet

Só quando me aposentei do Citibank em junho de 2001 fui aprender a lidar, de fato, com a internet. Até aí tinha uma secretária que fazia tudo. Atordoado de ter que ir quase todos os dias aos bancos e enfrentar fila, entrei para a época moderna e, depois de algum tempo, fiquei maravilhado. Aprendi a lidar com a máquina , não preciso sair mais da minha poltrona para efetuar pagamentos, transferências, etc. Tudo era muito prático, fácil e ágil.
De uns tempos para cá, a título de segurança ( e os bancos devem ter rezão para isso ),o processo foi-se complicando, novos códigos de segurança foram sendo criados, cada banco querendo ser mais criativo do que o outro. Tenho tabelinhas numéricas, aguardo meu código via celular, ganhei um chaverinho com mais dois códidos e agora, também, para desbloquear cartão de crédito precisamos de mais um código. A verdade é que trabalhando com apenas dois bancos tenho uns 8 códigos e minha vida está ficando um "nightmare". Para fazer uma transação preciso de 4 códigos diferente e, a qualquer êrro (o que é humano) volta tudo para a estaca zero.Enfim, minha vida com a internet junto aos bancos está ficando extremamente mais difícil a cada dia que passa e meu nível de ansiedade não pára de subir.
Entendo que segurança é preciso, mas é importante que os gênios do "IT" se lembrem que tem alguém do outro ládo da máquina que não pode perder 15 minutos para cada transação.Vamos criar alternativas seguras, mas simples, para o usuário pois , do jeito que vai, daqui a pouco irão faltar números e letras no abecedário para abrigar tantos códigos diferentes.Sei que não sou a única vítima do sistema(já ouvi muita reclamação de amigos)mas estou no meu limite.
Meus ex-colegas banqueiros, help please !
Obrigado, mesmo !

Bush e a "bolha" americana

Aqueles visitantes que tiveram oportunidade de ler o artigo abaixo (As lições da bolha americana) já sabem minha opínião à respeito do que está acontecendo nos Estados Unidos. E sabem , também, quão responsável é o FED em deixar que essa "bolha" fosse criada sem nada fazer. Pois, o FED como Banco Central que é, tem também a responsabilidade de fiscalizar os bancos. Vaí daí, já diziamos naquele artigo que o governo americano é tão responsável quanto banqueiros e/ou bancários que só visavam bonus polpudos no fim do ano por crescerem suas carteiras de crédito e gerar grandes lucros, de curto prazo.

Pois bem, a medida anunciada ontem na TV pelo presidente Bush vem confirmar nossas afirmações. O governo americano não só ajudará (como já vem ajudando os bancos americanos - pelo menos, os grandes ) como também mais de 1,2 milhões de proprietários de imóveis no mercado chamado de "sub-prime" (alto risco). Bush informou à população americana que congelará por 5 anos as taxas de juros dessas hipotecas, desde que o tomador de crédito venha pagando corretamente seus débitos. A medida foi tomada agora pois no começo do próximo ano os juros deveriam ser reajustados e, assim, milhares de proprietários não teriam condições de cumprir com suas obrigações.O Presidente americano disse textualmente ; " Não há solução perfeita, mas os proprietários de casas merecem nossa ajuda. E os passos que apresentei hoje (ontem) são uma resposta sensata a um sério desafio". Portanto , um "méa culpa" mais do que merecido.

Com isso , aqueles que possuem contas em bancos americanos aqui no Brasil, podem ficar tranquilos, pois o "problema" é do FED. Os bancos, seus acionistas e mais prá frente seus funcionários (certamente teremos demissões, especiamente nos Estados Unidos) pagarão parte do prejuizo.E os bancos continuarão tocando suas vidas.

Eis, pois, mais um capítulo da novela "bolha americana" que continuará pelas próximas semanas e meses.O governo americano (incluindo-se aí o FED) nunca foi "tão flexível" e continuará sendo. As taxas de juros americanas cairão na próxima semana e continuaremos a receber mais dólares do que precisamos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Renan é inocente

Por 48 votos contra 29 o Senado absolveu, ontem, em plenário o senador Renan Calheiros. Para que tal acontecesse, o senador leu, sorridente, seu pedido de renuncia à presidência do Senado. Pronto, estava selado o acordo, e porque renunciou passou a ser inocente. Interessantes os critérios utilizados pelo Congresso Nacional. O balcão de negócios funciona em todas as esferas, e todos permanecem felizes. Só o povo, que acreditava que o Congresso estaria lá em Brasília para defender seus interesses , é que fica mais decepcionado a cada dia que passa. Pobre Brasil que tem uma lei para os "poderosos" e outros para os cidadãos comuns. E dizem que isso é democracia....

domingo, 2 de dezembro de 2007

As lições da “bolha americana”

O que está acontecendo hoje nos Estados Unidos e espalhando-se por outros países europeus (Inglaterra, Suíça, Alemanha. etc) é simplesmente inacreditável para alguém, como eu, que trabalhou numa grande corporação financeira americana e conhece os padrões de crédito e controle existentes. Tínhamos limite de risco de crédito por cliente, limites por setores da economia aqui no país, na América Latina e no mundo todo. Cheguei a negar crédito para um dos maiores grupos siderúrgicos do país pois, o limite de crédito para o setor siderúrgico na América Latina, estava tomado. Difícil explicar para o cliente mas fácil de entender para nós que seguíamos rigorosamente a disciplina da organização. Além disso as inspeções de crédito anuais avaliavam não só a situação da carteira de crédito da organização como também se os procedimentos estavam sendo seguidos adequadamente. Sem contar, ainda, com as fiscalizações periódicas do Banco Central que, infelizmente, hoje é mais conhecido como “Copom”.

Portanto, com esse tipo de cultura, não conseguimos entender como e porque estamos vivendo uma “crise de crédito” internacional das mais importantes da história. O que se viu (e ainda se verá) no mercado imobiliário americano foi a quebra ou inobservância de todos os padrões existentes para fazer com que as organizações crescessem seus ativos e gerassem mais lucros (para os acionistas) e bônus para os executivos. Além da irresponsabilidade de quem permitiu que tal acontecesse, onde estavam as auditorias internas e externas e a própria autoridade americana (o FED), que também faz visitas periódicas aos bancos para avaliar como vão as coisas. É inacreditável que todo esse pessoal, teoricamente bem preparado, não tivesse percebido que uma “bolha imobiliária” estava sendo formada e que um dia, certamente, estouraria. È o abandono total dos valores antes existentes em favor da euforia de ganhar dinheiro fácil (muita gente levou bônus polpudos para construir essa verdadeira calamidade). Sim, calamidades também podem ser construídas, e essa da “bolha imobiliária” é uma delas.

O pior de tudo é que o problema que está atingindo gigantes do sistema bancário internacional está longe do fim. A inadimplência arrasta-se para outros setores o que faz com que os bancos busquem empréstimos e capital no mercado para que possam absorver mais prejuízos no futuro próximo. E quando o FED vem a público (como fez Bernanke no fim da última semana) informando que o Banco Central Americano continuará a ser “excepcionalmente alerta e flexível” , ele não faz mais do que sua obrigação. O mercado gostou do que ouviu, reagiu bem. Entretanto, para quem viveu sua vida dentro de um desses grandes bancos internacionais e já conviveu com outras crises no passado, essa manifestação da autoridade americana não é novidade alguma. O FED não pode deixar que um desses grandes bancos torne-se inadimplente, pois o efeito “cascata” seria irreversível. O FED já está atento desde o começo da crise, e como faz parte dela (falhou grosseiramente na supervisão) tem a obrigação de ajudar a resolvê-la com mais dinheiro ou redução na taxa de juros. Uma quebra no sistema americano levaria o sistema financeiro global de roldão.

Que lições podemos tirar de tudo isso no Brasil. Felizmente a situação aqui é diferente, o sistema financeiro está sólido, crescendo e gerando lucros. Aparentemente não há bolhas escondidas por aí, embora os financiamentos de autos estejam excessivamente flexíveis e podem dar dor de cabeça no futuro.

O cuidado que temos que ter daqui para frente - e essa é a grande lição, no meu modo de ver - é a necessidade dos bancos cresceram agressivamente no próximo ano para atender as perspectivas de lucros geradas quando da abertura de capital. Além de todos os bancos estarem buscando crescimento nas suas carteiras de crédito (o que é bom para o desenvolvimento do país) , aqueles que abriram capital recentemente têm grande responsabilidade com seus novos acionistas. Portanto, vamos continuar mantendo os dois pés no chão e não afrouxar nos padrões de crédito para poder crescer. A disciplina de crédito deve ser mantida, as auditorias efetuarem seu trabalho de avaliação dos riscos e dos controles, e a própria autoridade (o Banco Central do Brasil) não esquecer de suas responsabilidades de também ser agente fiscalizador.

Com toda essa crise mundo afora, nossa economia vai indo relativamente bem, e as perspectivas são de que os “países emergentes” serão os menos afetados em 2008. Uma recessão nos Estados Unidos certamente criaria problemas para todo o mundo, mas nós podemos tirar algumas vantagens pois “é nas crises que geram as grandes oportunidades”. Basta não cometermos os mesmos erros e entender que a fase de “céu de brigadeiro” já se foi em 2007.