segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Controle da inflação desarticula economia

“ A inflação aleija,
o câmbio mata “

Prof. Mario Henrique Simonsen


Embora os tempos sejam outros e o Brasil não tem mais problemas com o endividamento externo, vale sempre relembrar as sábias palavras do saudoso Prof. Mário Henrique Simonsen. Por certo nossos governantes não acreditam nesse ensinamento, pois para controlar a inflação (que é importante) estão desarticulando toda a economia. O que gostaríamos de ver era uma espécie de equilíbrio entre os diversos preços do mercado, mas acontece exatamente o contrário. Para controlar a inflação - na realidade, única meta definida pelo Governo - vale tudo.

Como a inflação para 2008 preocupa pois, segundo o FMI, “os preços dos alimentos voltam a ser ameaça para países emergentes”, o Copom e o Ministério da Fazenda tomam decisões - ou deixam de tomá-las - para que a inflação não venha a nos incomodar no próximo ano. Mas qual o custo que estamos pagando para persistir numa meta de inflação que talvez seja um pouco apertada demais ?

Sem dúvida, os custos são enormes. Com a decisão do Copom em deixar inalterada a Selic, continuamos vice-campeões em taxa real de juro. Alto custo de crédito, dificuldade para novos investimentos, enfim, barreiras para os brasileiros que aqui vivem e possuem os seus negócios.

Em contrapartida, o capital especulativo continua nos procurando pois a arbitragem com os juros do mercado internacional é bastante lucrativa.Os dólares invadem o País causando outras sérias distorções. A principal delas é a super-valorização do real, que é a moeda cujo preço mais evoluiu em relação ao dólar. Somos campeões em valorização da moeda( o real), fazendo com que o dólar chegasse a ser cotado abaixo de R$ 1,80 na última semana.

A Fiesp reclama dos estragos que a moeda apreciada faz em alguns setores da economia, propõe alternativas para terminar com essa “farra dos dólares” mas nada de prático acontece. Insistem em que a não tributação de Imposto de Renda em títulos públicos adquiridos por investidores estrangeiros deve ser extinta, mas o Governo faz ouvidos de mercador.

Além da política de juros locais elevados para segurar a inflação, o Governo encontrou no dólar uma âncora importante para atingir o mesmo objetivo. Com isso, as importações evoluem em ritmo acelerado, tendo crescido 27,8% de outubro de 2006 a setembro de 2007, enquanto as exportações cresceram apenas 15,7% no mesmo período.

Com o dólar “barato”, ficou também altamente lucrativo para as empresas internacionais, que aqui operam, realizarem lucros fabulosos e terem triplicado o volume de remessas no governo Lula. Com os mesmos reais enviam muito mais dólares para suas matrizes, enquanto nosso exportador vai perdendo mercado ou trabalhando no “vermelho” à espera de dias melhores.

Para dar a entender que está tentando “consertar” essa situação, o Governo compra dólares no mercado mas deixa que o real se aprecie continuamente. Criou linhas de crédito no BNDES ( virou novamente “hospital”) para socorrer aqueles exportadores que estão sufocados pelo problema cambial.

A Petrobrás, que é do governo, também paga sua conta. O último ajuste do preço da gasolina foi em Setembro de 2005, quando o barril de petróleo estava na casa dos US$ 63,00 e a taxa de câmbio era de R$ 2,30. Hoje , temos o preço do barril do petróleo consistentemente acima de US$ 80,00 e está “tudo bem”. Pouco importam as justificativas do Governo, mas a verdade é que a gasolina não aumenta para não colocar mais lenha na fogueira da inflação.

E assim vamos tocando esse “país da fantasia” que um dia cairá na realidade. A inflação é importante para a estabilidade do País - e especialmente para aqueles de baixo poder aquisitivo - mas ao distorcemos todos os preços da economia estamos criando um problema futuro de dimensões impossíveis de prever.

O que se espera do Governo é que ele continue combatendo a inflação mas que inicie um processo de “ajuste dos preços” da economia enquanto é tempo e o vento sopra a nosso favor.