terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O Brazil com "z"

O Brasil visto lá de fora , onde o "s" é substiuido por "z", está bem melhor do que nossa visão interna, pelo menos a minha. Nesta semana dois órgãos de imprensa respeitados - a revista "The Economist" e o jornal "Financial Times" - elogiam nosso país por razões diferentes. Pela "bolsa-familia" ( The Economist) e pela nossa aparente imunidade a crise internacional, o que não acontecia há uma década .

Com o titulo de "Happy families", a revista "The Economist" fala do nosso bolsa-familia, dos países que estão copiando ao redor do mundo , dos resultados positivos que o presidente Lula alcançou. Segue dizendo que "apesar do sucesso inicial da bolsa-família, tres preocupações permanecem. Primeiro é em relação a fraudes, pois em programas similares nunca 100% dos recursos chega às maõs dos beneficiários. E alguém dúvida que isto não esteja acontecendo no Brasil ?

A segunda preocupação é que a bolsa-família fique sendo um programa permanente da sociedade brasileira , ao invés de um programa temporário até que oportunidades
sejam encontradas para os mais pobres. Pois o que enobrece o homem é o trabalho.

E a terceira preocupação - que é de grande parte dos brasileiros - é que a bolsa-família foi equacionada para "vote-buying", isto é, compra de votos.

Apesar dessas preocupações - todos brasileiros prefeririam que pudessemos ensinar os pobres a pescar ao invés de dar-lhes o peixe - a revista afirma no longo artigo que "por um custo modesto (0,8%do PIB)o Brasil está recebendo um bom retorno" . E conclue dizendo que seria positivo "se a mesma coisa pudesse ser dita com relação ao resto das despesas do governo".

Como se vê, o Brasil é admirado e elogiado mas o "se" sempre está presente.

O "Financial Times" ,de ontem, também elogia a maneira como o Brasil vem enfrentando a turbulência atual, pois há 10 anos a situação seria bem diferente.

É verdade, o Brasil era muito mais vulnerável externamente do que é hoje, pois possuia uma política cambial errônea ( câmbio administrado), reservas internacionais insuficientes que poderiam desaparecer em alguns meses (como aconteceu em 1988/1989, na gestão Gustava Franco). Hoje temos um colchão de reservas internacionais superior a US$ 190 bilhões, e não há chance de "ataque ao real". A ameaça de recessão, de acordo com a revista, não atingiu o Brasil que só terá solavancos se tivermos uma recessão nos Estados Unidos, e desaceleração na China, que reduzirá o preço dos commodities e das exportações brasileiras.

Depois dessas considerações positivas - e justas - a revista alerta que para nos fortalecermos mais consistentemente e enfrentar uma possível crise internacional, deveriamos controlar os gastos do governo (gastar mais inteligentemente) , aumento da produtividade, estímulos ao setor privado e reformas fiscal e trabalhista.

E aí que mora o perígo. Todos já sabemos que redução/contrôle de despesas não está no DNA do governo. Que o governo Lula não fará reforma alguma até o fim do mandato, mesmo porque o Congresso tem muito o que fazer com os"mensalões", "mensalinhos" e assim por diante....além das férias sagradas, é claro.

E a "The Economist" finaliza dizendo que podemos nos orgulhar dos progressos alcançados mas o sentimento de "urgência" é necessário para manter o "momentum".

"Urgência" , pois, é a palavra chave e o grifo é nosso. SE o nosso governo ( e o Congresso) tivessem a ousadia e coragem de efetuarem a reforma tributária e a reforma trabalhista, pelo menos, o país seria outro. Aí seriamos, sim, com certeza, uma das dez maiores economias do mundo por mérito do trabalho dos brasileiros e não, como é hoje, devido a apreciação do real. Desculpe, mas para quem não sabe, o PIB é calculado em reais e depois convertido em dólares. Portanto, quanto mais forte o real e mais fraco o dólar, teremos um PIB maior. Mas um simples ajuste de,pelo menos, 20% na taxa de câmbio, reduziia nosso PIB na mesma dimensão.

Enfim, o mundo está nos observando, gosta do que vê no momento, mas olha para frente e encontra alguns "ifs". Temos, pois, que trabalhar para elimina-los o mais rápido possível, o que honestamente poucos acreditam quando olhamos hoje para Brasília e vemos como as coisas se desenrolam.
Quero, porém, estar errado e calar minha boca se a profecia de São Francisco de Assis também se aplique no Brasil : " Faça o necessário, depois o possível e, de repente, você estará fazendo o impossível".