sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A derrota política (1)

Como primeiro artigo desta série sobre a rejeição da CPMF pelo Senado Federal, não poderiamos deixar de começar pelo - no nosso modo de ver - único fator positivo dessa disputa que se arrastou por meses em Brasília. A derrota política que 34 senadores impuseram ao presidente Lula, foi o fator a ser, teoricamente (mais abaixo explico porque), comemorado pela sociedade. Aquela postura autoritária e de imperador do presidente Lula foi abalada, pois parecia inimaginável que depois da fácil aprovação na Câmara o governo sofreria o revés que sofreu no Senado Federal.

Embora governadores da oposição ( José Serra, Aécio Neves, etc) tenham se posicionado a favor da prorrogação da CPMF pois vislumbravam mais dinheiro para seus estados, os 34 senadores não arredaram pé e foram até o fim.

Na realidade, um ato de heroismo desse grupo de parlamentares que "não estavam à venda por dinheiro nenhum". Queriam a derrota política do presidente Lula, que ele respeitasse e dialogasse mais com o Congresso e deixasse de ser um ser ausente das grandes discussões do país.

Na teoria, tudo perfeito. Lula sofreu sua primeira importante derrota política que custará caro para o governo e para a Nação. Ficou sem os R$ 40 bilhões que já estavam no seu orçamento de 2008 e agora terá, juntamente com sua equipe econômica, de enfrentar o desafio de efetuar um ajuste de contas não previsto. Lula, como sempre, acreditava no seu carisma e no seu suporte popular para vencer qualquer batalha na Câmara e no Senado. Não levou a sério as dificuldades enfrentadas no Senado até os últimos dias e, aí, ficou dificil, ou melhor, impossível reverter a situação.

Portanto, o que se espera é que depois dessa derrota política o presidente Lula mude seu comportamento, dialogue mais com os congressistas, arquive sua postura de imperador. Finalmente o Brasil ganhou, mostrou que temos uma democracia de fato, e as coisas deverão melhorar daqui para frente com cada qual exercendo seu papel.

Isto é o que todos esperam, essa é a teoria de que falei acima mas, eu aqui com meu botões, creio que, na prática, pouco ou nada vai mudar.

Primeiro porque o presidente Lula, vencedor que é, tem seu modo de pensar e agir e não parece que vai recuar no primeiro revés. Foi derrotado três vezes na luta para a presidência da República, mas conseguiu vencer na terceira quando muitos consideravam impossível. Dizia-se, até, que existiam apenas duas verdades em política : a primeira, que Lula seria candidato à presidente da República; a segunda, que ele perderia !

Segundo, por ser uma pessoa que se fez por si só e chegou à presidência da República por méritos próprios face ao seu carisma e sua liderança, não vejo que é agora que irá mudar. Muita coisa será dita para jogar a culpa dos problemas que teremos que enfrentar nos ombros dos 34 senadores que tiveram a coragem de enfrentá-lo.

Last but not least, Lula continua sendo idolatrado pelo povão e na última pesquisa CNI/Ibope a aprovação do seu governo subiu de 63,0% para 65,0% da população brasileira. Só 30,0% (a elite e parte da classe média) desaprovam Lula , como presidente.

Portanto, baseado nesse importante cacífe político, saberá fazer com que essa população que o aprova não seja atingida pela rejeição da CPMF e, se por acaso o fôr, a culpa será da oposição que lhe tirou o pão das maõs.

É pagar para ver. Como o período de "céu de brigadeiro" já havia acabado, as nuvens negras chegaram mais perto de nós e o Governo será colocado à prova do que é capaz de fazer em ambiente desfavorável. Mas, para mim, uma coisa parece certa, Lula continuará sendo o Lula que conhecemos, com agressivos discursos de improviso , tudo aquilo que o povão quer ver e ouvir. Desde que a "bolsa-família" e os programas sociais não sejam afetados ( e eles, dificilmente, o serão) , Lula não será igualmente afetado, para desespero daqueles que tiveram coragem de enfrentá-lo.

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Obs ; o segundo artigo da série será publicado na 2ª feira, dia 17 de dezembro.