quarta-feira, 12 de março de 2008

Pacote para o dólar

Os jornais hoje estampam grandes manchetes informando que o governo está estudando medidas para segurar a valorização do real.

Enquanto tais medidas não forem estabelecidas, fica difícil dizer quais os efeitos positivos e negativos do anunciado "pacote".

Algumas verdades, porém, precisam ser ditas :

- o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é a pessoa quem tem sido a mais ponderada no que diz respeito aos comentários referentes a valorização do real e os eventuais riscos que o país pode correr ;

- abaixar os juros locais seria o melhor caminho para colocar o "real" do seu lugar, na medida que o "real" deixasse de oferecer prêmio aos investidores e especuladores. Mas isso o governo não vai fazer pois a inflação está por aí, e essa é a melhor arma que o governo possui para controlá-la;

-o governo foi lerdo demais - o que não é novidade - em perceber que alguma coisa de errado estava acontecendo com a valorização do "real". Não é possível que nossa moeda seja aquela que mais se valoriza em relação ao dólar no mundo inteiro. Mas era conveniente ter o dólar desvalorizado, para favorecer as importações e segurar os preços internos e cumprir as metas inflacionárias.

- como foi lerdo, agora terá que emitir um "pacote" que, se tiver efeito , fará o dólar subir o que poderá pressionar um pouco mais a inflação. Que fazer, aumentar os juros locais que já estão nas alturas ou "chorar sobre o leite derramado" ?

Por diversas vezes alertei para a valorização excessiva do "real", e que um dia teríamos que enfrentar a realidade. Parece que a hora chegou. Vamos, agora, testar a capacidade do governo em estabelecer regras que atinja seus objetivos e não crie impactos negativos na economia.

Esse é um tema que certamente ocupará a mídia pelos próximos dias, e os visitantes deste espaço poderão acompanhar a opinião de quem conviveu com o inesquecível Mário Henrique Simonsen, para quem "a inflação aleija mas o dólar mata". A situação , à época, era diferente mas o lembrete ainda é válido.

Lá fora, o pessimismo continua

A posição assumida ontem pelos FED - Banco Central Norte-Americano e alguns outros bancos centrais, de injetarem mais bilhões de dólares na economia para esvaziarem a bolha imobiliária e dar algum folego para recuperação economica americana, foi aceita de maneira bastante positiva pelos mercados. Os preços das ações subiram em todo mundo , muito otimismo e os comentários, àquela altura, eram ; agora vai.

Entretanto, lendo hoje comentários de analistas internacionais parece que a crise não tem fim. O volume de dinheiro colocado à disposição do mercado não é suficiente, diz o economista chefe da Merill Lynch, enquanto que o Financial Times publica matéria segundo a qual o problema da "bolha imobiliária " não seria de bilhões de dólares mas sim de dois ou tres trilhões de dólares.

Com esse clima de pessimismo, não há como estabelecer tregua no mercado e as transações com esses papéis voltarem à normalidade, com os descontos necessários. Não sei onde está a verdade mas o fato é que enquanto as pessoas não acreditarem que o FED, bancos centrais e governo americano estão no caminho certo, poderemos ter uma crise sem precedentes.

Os balanços do 1º trimestres dos bancos comerciais e de investimentos darão um pouco mais de luz `s essa discussão. O importante é que as autoridades envolvidas em salvar o sistema consigam virar essa página, para os mercados voltarem a atuar com alguma racionalidade.

Continuo firmemente acreditando que não haverá quebradeira no mercado (pois estamos falando de grandes bancos comerciais e de investimento) , mas que os bancos favorecidos pela ajuda do governo terão uma dura conta para pagar. Abril, quando saem os balanços trimestrais, será, para mim, o mes da verdade.

Até lá vamos conviver com a tradicional "volatilidade" , justificativa que o mercado inventou para não termos que dizer que não sabemos o que está acontecendo e o que vai acontecer.

Por enquanto, um chá de camomila ajuda a controlar a ansiedade e nervosismo.