segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Citigroup ladeira abaixo

O banco de investimentos Goldman Sachs emitiu comunicado hoje recomendando SELL (venda) das ações do Citigroup. As ações do Citi já cairam 40% este ano e apesar da provisão de crédito de US$ 11 bilhões já efetuada, o banco de investimentos acredita que teremos mais prejuizos aí pela frente provenientes da carteira de crédito (inclusive sub-prime e "off balance sheet"). Certamente o Citi errou totalmente a mão na administração da sua carteira de crédito (a "cultura" de crédito sempre foi forte no Citi ...) e , quando tal acontece, não tem perdão. O que mais entristece a mim, que efetuei carreira de 46 anos no Citi e tudo que tenho devo ao banco, é vê-lo nessa situação e o Goldman Sachs considerar-se mais pessimista por "falta de liderança". O Citi que sempre foi um banco que se diferenciou pela sua liderança tanto no mercado interno quando externo (solução do problema da dívida externa dos países em desenvolvimento), passa agora por essa situação constrangedora de não ter na sua equipe alguém que claramente pode resolver ou encaminhar a solução dos problemas do banco.Quem não se lembra de John Reed e William Rhodes além do saudoso Mario Henrique Simonsen no Conselho ? Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro, é hoje o homem forte do Conselho de Administração, mas o president e(CEO) é interino e os "boatos" são de que o Citi estaria procurando alguém no mercado. Vamos torcer para que os problemas sejam resolvidos embora com um custo maior para seus acionistas. Gostaria de estar lá para poder ajudar (pelo menos esclareceendo a opinião pública do que está sendo feito para enfrentar os desafios) mas minha vez já passou e os tempos são outros.

O “fantasma” está de volta ?

No fim da década de 90 quando Fernando H. Cardoso era presidente e Pedro Malan o ministro da Fazenda , as conversas que tínhamos em New York eram interessantes. Vivíamos crises internacionais atrás de crises internacionais, até que a crise chegou ao Brasil no fim de 1988 e começo de 1999. Com o conhecimento que tínhamos, como presidente do Citibank, dos governantes brasileiros, tinhamos a certeza de que eles iriam cumprir os contratos da dívida externa recém assinada, que não haveria calote interno e que as dificuldades iriam ser superadas sem “surpresas” desagradáveis.

Diante de nossa firme posição de continuar apoiando o Brasil mesmo depois da desvalorização do câmbio em 1999, os “seniors” de New York sempre nos indagavam ; o que acontecerá com o Brasil quando tiver um governo de esquerda? As regras e os contratos serão honrados, ou teremos uma outra Argentina ?

Era uma pergunta difícil de responder pois o discurso do PT no país era “contra tudo que está aí”. O temor ficou evidente quando, em meados de 2002, Lula subiu nas pesquisas e o dólar chegou a quase R$ 4,00 . Era o “fantasma” de termos um governo de esquerda. Ninguém poderia imaginar o que iria acontecer.

Quando Lula assumiu o poder e deu continuidade ao Plano Real , o país acalmou. O dólar voltou rapidamente pois o “fantasma” desaparecera. Tínhamos um governo de “esquerda” e o Brasil continuava nos trilhos.

Vivemos um período de tranqüilidade com relação a continuidade do modelo econômico, o Brasil crescendo, os menos favorecidos felizes com o governo Lula. Tudo ia bem até que recentemente iniciaram-se os “boatos” com relação a um 3º mandato do presidente Lula, prontamente desmentido por ele. No começo deste mês o jornalista Boris Casoy escreveu, entre outros, na sua coluna do JB que “ao mesmo tempo surge um parlamentar petista, Devanir Ribeiro, copa e cozinha de Lula, e, num ato de “desobediência” ao amigo e ao patrão, lança a idéia de um terceiro mandato para nosso ilustre presidente”. Mais adiante afirma ainda que “Não tenham duvidas. Está no ar um processo golpista como nunca se viu antes neste país “.

O assunto - terceiro mandato - começou a fazer parte das discussões políticas até que na última quarta-feira o presidente Lula saiu em defesa de Hugo Chaves, afirmando que o presidente venezuelano não pode ser atacado por falta de democracia. Não bastasse, voltou a defender o presidente venezuelano das críticas por querer permanecer no poder no 3º mandato, cujo texto faz parte de reforma constitucional que será submetida a referendo popular em 15 dias. Isto é, Lula abraça todas as idéias e planos de Chávez de permanecer no poder o tempo que quiser.,

Enfim , estamos vivendo uma fase de transformação na América Latina e que começa a chegar perto de nós. O que Chávez realmente busca é uma espécie de “ditadura” em forma de lei, e o nosso presidente Lula parece concordar com esse modelo. Será que o “fantasma” de um governo de esquerda voltou de novo ao nosso país ? É simplesmente defesa a um amigo ou o apego ao poder esta fazendo com que nosso presidente queira também usufruir das delícias de Brasília por mais tempo ?

O que preocupa, na realidade, não é uma mudança constitucional que daria poderes ao presidente para um 3º mandato. O que nos deixa com um pé atrás ( ou com os dois, se possível ) é o porquê desse eventual interesse ? Para continuar fazendo exatamente o mesmo ? Parece que não. Seria a oportunidade de colocar em prática a velha ambição do PT de permanecer 20 anos como governo?

Vamos , pois, colocar as “barbas de molho” e ficar atentos aos movimentos futuros do PT e do presidente Lula . Seria um desastre para a economia se o “fantasma” voltasse novamente a nos assustar. O povo deste país não merece enfrentar nova crise gerada por nós mesmos.