sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Cartões Corporativos, o "novo mensalinho"

Não pretendia retornar ao blog esta semana, enquanto a poeira da folia ainda paira pelos ares. Mas, acompanhando os desdobramentos dos "cartões de crédito corporatívos do governo", não resisti depois de ouvir o que a Dra. Wilma, nossa mais poderosa e eloquente ministra, disse na TV na 4ª feira em seu tom habitual(professoral). De acordo com o Estadão de ontem, a ministra da Casa Civil, dra. Wilma Rousseff, uma mulher inteligente e bem preparada, afirmou que vai retirar os cartões dos ministros, sob o argumento de que "o princípio da transparência impede que alguém compre para si mesmo". Nesse caso, o uso do cartão ficaria por conta dos assessores.

Inicialmente me pareceu uma piada de mau gosto, daquelas que estamos acostumados a ouvir em Brasília, mundo diferente do qual vivemos. O presidente Lula gosta dos seus improvisos e o povão adora. Mas, examinando o assunto com mais cuidado cheguei a conclusão que a intenção da ministra Wilma é verdadeira, não há nada de piada de mau gosto.

Ora, pergunto eu assim como milhões de brasileiros; Se não podemos confiar nos ministros no uso adequado do cartão de crédito, qual seria a atitude a tomar ? Cortar o cartão de crédito como se pretende ou cortar o ministro ?

Não resta dúvida que se este fosse um país sério - como já duvidava Napoleão Bonaparte - teriamos novos ministros e, especialmente, menor número de ministros para reduzir gastos e facilitar o controle. E essa "intenção" de cortar o cartão corporativo dos ministros ganha repercussão maior quando vemos a teve Bandeirantes reproduzir ( ontem à noite) parte do debate presidencial entre Lula e Alckimin oportunidade em que o então candidato Lula declarou que a única coisa boa que o governo Fernando H. Cardoso criou foi o cartão corporativo. E ele, o nosso Lula, estava falando sério e não era nenhuma outra piada de mau gosto.

O problema , entretanto, é muito mais profundo do que a proposição da dra. Wilma. O abuso - ou uso inadequado dos cartões - começa mais acima do nível dos ministros , e vem descendo degraus abaixo até atingir seguranças dos filhos do Presidente e funcionários públicos dos Estados, como é o caso do nosso Estado de São Paulo. Aparentemente temos aí um "novo mensalinho."..quanto mais a imprensa pesquisar vai encontrar a mesma farra em outras partes do Brasil e, não dúvido, no próprio Congresso Nacional.

Só para citar alguns números publicados pela imprensa, o Gabinete do presidente Lula gastou R$ 3,6 milhões em 2007, incluindo as necessidades do presidente e da primeira dama, Marisa Letícia.Os seguranças dos filhos do presidente também possuem seus cartões, bem como milhares de funcionários pertencentes a todos os ministérios. O problema alcançou repercussão tão grande na imprensa e no Congresso - que ainda está sob o rescaldo do mensalão, dólar na cueca, etc. - pois o valor de R$ 75,0 milhões gasto em 2007 é mais do que o dobro gasto em 2006 ( R$ 33 milhões). O ministério do Planejamento foi o campeão de bilheteria com gastos de R$ 34,0 milhões em 2007, seguido da Presidência República com R$ 16 milhões. Ironicamente, o Ministério do Turismo ( que é um ministério que, a príncípio, deveria consumir boa verba ) dispendeu apenas R$ 2.780,00, isso mesmo, dois mil setecentos e oitenta reais.

O que assusta ainda mais é que do total dispendido em cartões corporativos pelo governo , nada menos do que R$ 45,0 milhões ( mais da metade) foram saques efetuados em dinheiro. Se o próprio presidente Lula elogiou a criação do cartão de crédito corporativo pelo presidente Fernando H. Cardoso, como justificar essa montanha de dinheiro espalhada pelos bolsos dos funcionários (e ministros) . O princípio do cartão é para facilitar os pagamentos, desobrigando as pessoas a carregarem valores expressivos nos bolsos na rua ou nas suas viagens. O cartão engloba também segurança, mas o pessoal do Brasília ( e de São Paulo também ) prefere o dinheiro no bolso.

Diante desse quadro assustador - parece que estamos no início de outro escândalo gigantesco neste país - os congressistas só falam em CPI. O presidente Lula anuncia que liberará cargos para barrar a CPI, mas deputados tucanos querem CPI mista com início em 2001, envolvendo assim governos FHC e Lula.

A verdade é que uma CPI a mais ou uma CPI a menos não vai fazer diferença nenhuma, pois tudo quase termina em "pizza". Muito tempo e muito dinheiro gasto para, no fim, ficar tudo como está. Os número que a imprensa apresenta hoje como utlização de cartões corporativos do Estado de São Paulo ( R$ 108,0 milhões )são superiores ao governo federal o que certamente terminará em CPI também por aqui.E assim vai nos outros estados onde a imprensa tiver acesso pois essa utilização inadequada dos cartões de crédito corporativos mais parece uma nova forma de se "governar" no Brasil, à custa do povo. Pois no fim quem paga todos esses excessos somos, nós, contribuintes.

Daria para escrever um livro sob o assunto - o "novo mensalinho" certamente fará parte do meu segundo livro - mas vou ficando por aqui. Faz de conta que ainda é carnaval, tudo isso não passa de "fantasia" e o Brasil continua vivendo em berço explêndido. Mas, cuidado senhores governantes...um dia a paciência acaba !