sexta-feira, 14 de setembro de 2007

APERTAR OS CINTOS

“Apertar os cintos”, de verdade, é o que o governo brasileiro ( incluindo executivo, legislativo e judiciário ) deveria estar fazendo frente à crise mundial anunciada, mas cuja intensidade ninguém pode prever. O que vemos, infelizmente, é o presidente Lula declarar, em alto e bom som,que “isso é problema dos EUA” e “não aceitaremos que joguem nas nossas costas os prejuízos de um jogo que não jogamos” . Santa ingenuidade.

A maior responsabilidade pela crise vivida nessas últimas semanas é certamente das autoridades norte-americanas. Deixaram a “bolha imobiliária” crescer acreditando que o ajuste viria ao longo do tempo, sem maiores conseqüências.E não foi isso o que aconteceu.

O mundo desenvolvido, preocupado com os primeiros problemas no mercado chamado de “subprime”, agiu rapidamente . Vários bancos centrais injetaram recursos na economia e, só o FED , injetou mais de US$ 150 bilhões. Quando se sabe que na crise do Brasil o FMI e os governos do G-8 socorreram o País com um “gigantesco” pacote de US$ 40 bilhões, imaginem qual a dimensão do problema atual. Certamente o FED e o governo norte-americano (que também criou facilidades para a renovação de hipotecas vencidas) sabem mais do que está nos jornais.

As indicações de que não se trata de uma “bolha passageira” e que a economia real será atingida, são várias.O estoque de casas não vendidas é o maior nos últimos 16 anos. O setor imobiliário já está em recessão o que é comprovado por recente pesquisa da norte-americana Nabe (Associação Nacional de Economia de Negócios), segundo a qual o “calote imobiliário” é a preocupação maior naquele País. O “terrorismo” passou para 2º lugar.

William Rhodes, veterano presidente do Citigroup, afirmou há 10 dias na China que “a crise imobiliária irá contaminar a economia real”. A redução de 4000 postos de trabalho nos EUA em agosto (quando se esperava um aumento de 110.000 ) assusta pois é a primeira queda desde 2003.

Portanto, que o crescimento da economia norte-americana será afetado parece que não há dúvidas. Há aqueles que já indicam que ela será, em 2008, um ponto percentual menor do que os 2,6% até agora previstos.

E aí é que entra o nosso governo, que parece acompanhar tudo de binóculo. É certo que o nível das nossas reservas internacionais impede qualquer “ataque ao real” nos moldes que tivemos no passado, mas isso não é tudo. Como o “céu de brigadeiro” do cenário internacional parece estar começando a ficar carregado, é hora de agirmos com urgência para a melhoria dos nossos fundamentos internos. As empresas sentem-se asfixiadas com a pesada carga tributária , os altos encargos trabalhistas forçam a informalidade, e assim por diante. Seria a hora de mostrar que o Brasil tem governo, que está atacando os problemas que impedirão um crescimento futuro mais acelerado ao invés de acharmos que está tudo bem porque a economia cresceu 4,9% no 1ª semestre.

O que vemos, entretanto, é a Câmara trabalhando num novo trem da alegria, colocando mais 260.000 servidores assentados oficialmente na máquina pública e o Executivo projetando mais 30.000 empregos para 2008. A única preocupação do governo é a prorrogação do CPMF, o que vai ficar mais fácil com a “traição” dos senadores (aos seus eleitores), que deixaram Renan Calheiros no poder.

O que aprendi ao longo da minha vida profissional é que devemos agir, antecipar os problemas antes que eles aconteçam. Com tal postura, os eventuais danos serão minimizados. Mas parece, infelizmente, que o governo pensa ao contrário.

( Este artigo foi publicado no Jornal do Brasil do dia 16/9/2007)

Relembrando

No artigo abaixo "Exportar ou Comer" publicado no Estadão no dia 5/11/2001 procuravamos mostrar quanta falta de sorte ( ou conhecimento) do então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao afirmar que "nenhum país soberano, nenhum país que respeita seu povo exporta aquilo que falta na mesa do povo para comer". O artigo mostra como Lula estava errado na sua afirmação ( ou já "não sabia" ), pois nunca exportamos aquilo que falta para o povo. Graças às exportações em geral, inclusive "commodities" ,conseguimos superavits significativos que nos permitiram criar um colchão de reservas internacionais que hoje impede qualquer ataque significativo ao nosso real. Vale, pois, relembrar.


Veja aqui o "Espaço Aberto" do Estadão de 05/11/2001:

Quando há cêrca de um mês o presidenciável Lula declarou que só deveriamos exportar depois que o povo tivesse tomado café da manhã, almoçado e jantado acreditavamos que era mais uso de retórica, uma provocação ao presidente Fernando H.Cardoso que havia lançado o desafio “exportar ou morrer”. Frase de efeito que faria parte do jôgo político e do processo eleitoral visando as eleições de 2002. Seria uma simples amostra do que teremos que ouvir ao longo dos próximos 12 meses.

Entretanto, na medida em que êle voltou ao assunto - “nenhum país soberano , nenhum país que respeita seu povo, exporta aquilo que falta na mesa do povo para comer” - no lançamento do projeto “Moradia” há dez dias no Rio de Janeiro, aí o assunto passou a adquirir ares de seriedade. Ou o sempre candidato Lula realmente acredita que ao exportarmos alimentos estamos tirando-os da bôca do povo ou está induzindo a êrro o mesmo povo que êle tanto defende . E, em ambas as alternativas, é lamentável que isso aconteça.

Não há brasileiro que não o apoie no programa “Fome Zero”. Reduzir - ou tentar reduzir - a pobreza deste país é um ato louvável em qualquer circunstância.Embora alguns questionem a eficácia de tal programa, o fato de estarmos copiando-o dos Estados Unidos e assim por diante, o que importa é a intenção, prioridade a ser dada a essa grande demanda da nossa sociedade. Todos sabem que essa não é tarefa para um único govêrno mas chegou a hora de tratarmos do assunto com muito mais seriedade do que foi tratado até aqui, não apenas no Brasil mas , também ao redor do mundo civilizado. Não dá mais para assistir-mos pacientemente crianças e velhos morrendo do fome por não ter o que comer.

Quando êle fala que o dinheiro “se arranja” pois se foi possível disperdermos cêrca de R$ 30 bilhões no Proer não há pôrque duvidar-se que o govêrno possa dispôr de R$ 10 bilhões no combate a fome, temos que concordar . Certamente o Proer foi importante para a estabilidade do Sistema Financeiro e para a nossa economia como um todo mas não há como não ser simpático com a tese de que “em se querendo, se consegue”.Embora não será com mais R$ 10 bilhões que iremos eliminar a fome mas é um esforço considerável que temos que apreciar.

Entretanto, entristesse-nos profundamente vê-lo declarar que nossas exportações são responsáveis pela falta de alimentos na mesa do nosso sofrido povo. Uma inverdade que pode ser constatada em cada um dos milhares de super-mercados espalhados por este país . Com R$ 1,38 podemos comprar quantas latas de óleo de soja que queremos, com R$ 1,00 quantos litros de suco de laranja que tivermos a capacidade de tomar bem como com R$ 1,69 podemos comprar quantos quilos de frango que nosso estomago pode absorver. O que falta pois não é alimento e sim dinheiro no bôlso do povo para poder comprar o que êle necessita para viver dignamente.

Para que o poder aquisitivo do povo possa melhorar um dos caminhos é, exatamente, as exportações. Na medida que vendermos para o exterior algo como US$ 60 bilhões em 2001 estaremos gerando mais divisas - os dólares tão necessários para o equilibrio das nossas contas externas - e milhares de emprêgos.São brasileiros cujo ganha-pão vem da produção da soja, do plantio do café , da confecção de calçados ou da montagem de celulares. E como o que exportamos , especialmente na área de agro-industria , é excedente da produção não consumida internamente, ao deixarmos de fazê-lo estariamos prestando um deserviço ao país. Portanto, deixar de efetuar vendas externas de US$ 15 bilhões - valor previsto das exportações de agro-negócios neste ano 2001 - além de não colaborar para tornar a mesa do povo mais farta ajudaria, ao contrário, a eliminar mais alguns alimentos daqueles poucos que êle consome.

Como claramente constatado a opção “exportar ou comer” simplesmente não existe. O combate a fome e à pobreza , isto sim, é a única opção que temos para fazer do Brasil um país mais justo socialmente. E se Lula vier a ser o próximo presidente da República, que êle possa exercê-la com tôda energia. Esperamos, apenas, que para “arranjar” os R$ 10 bilhões êle não venha a copiar o govêrno Fernando H. Cardoso que para efetuar a devida correção da tabela do imposto de renda quer que os reais necessários venham do bôlso dos mesmos 12 milhões de patriotas que declaram anualmente imposto de renda neste país. Ou ainda como o govêrno PT de Marta Suplicy que como primeira importante medida esta elevando o IPTU dos habitantes da cidade de São Paulo.