segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Ainda os bancos americanos

A Merrill Lynch acaba de emitir relatório sobre os resultados do 3º trimestre do Bank of America e projeções para o futuro. Como se sabe o BofA possue um total de "sub-prime" de US$ 14,9 bilhões, divididos em 3 categorias. Devido esse volume de ativos com problemas (que variam por categoria), a Merrill Lynch projeta um lucro por ação pela metade do que estava previamente estimado mas, mesmo assim, mantem a BUY opinion. Isto é, recomenda o papel para compra pois já sofreu bastante; o preço hoje está por volta de US$ 43 a ação e o "price objective" é US 52,00.

Portanto, na medida que mais informaçõe surgem a respeito dos problemas dos bancos americanos , a situação parece acalmar-se. É um problema legítimo, deve ser acompanhado com cuidado, para aqueles mais audaciosos talvez uma boa oportunidade de compra das ações desses bancos, mas a lição não pode ser esquecida.

Seria bom que todos (bancos e investidores) que foram atrás de papéis de baixa qualidade pelo retorno apresentado tivessem algum prejuizo, pois isto talvez ajudasse os bancos a serem mais cuidadosos na aprovação de crédito. Aprovar crédito é muito fácil, o difícil, na maioria das vezes, é cobrar.

A não ser que tenhamos fatos novos, cremos que o assunto está, por ora, esgotado.

Prejuizos com bancos americanos

O assunto levantado hoje pela imprensa com relação ao ajuste a preço de mercado dos ativos "nível 3" (todos os ativos dos bancos) é mais complexo do que parece. Certamente novos prejuizos deverão ser absorvidos pelos bancos americanos - possivelmente , também, alemães, ingleses, etc - mas o valor ainda é incerto e depende de inúmeras variáveis. Já alguns bancos se anteciparam, efetivaram ajustes e anunciaram prejuizos. Estão, portanto, mais confortáveis pois o impacto final será menor. Há outros que não fizeram o ajuste dos ativos "nível 3" e poderão ter que efetuar provisões maiores nos próximos dias.

Embora a notícia fosse bombástica ( pelo menos aqui no Brasil, pelo Estadão) e certmente na Ásia onde as bolsas caiam acentuadamente pela manhã, o impacto no mercado americano foi diferente. Como os 3 grandes bancos americanos ( Citigroup, J.P. Morgan e Bank of America ) assinaram compromisso de formar um fundo de US$ 80 bilhões para dar liquidez a esses titulos, o mercado acalmou. Na hora do almoço, as ações desses bancos subiam na Bolsa de NY. O mercado americano acredita que com esse fundo os titulos terão liquidez e, por consequência, seu valor de mercado será elevado. Portanto, bancos que já efetuaram provisões - a maioria deles o fez - estão mais tranquilos. O interessante desse processo é que o mercado está menos preocupado com bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley, pois embora tenham concentração maior nos ativos "nível 3" , já efetuaram provisões. Portanto,embora até o final desta semana todos tenham que efetuar tal ajuste no balanço, a verdade é que muitos já o fizeram e se tiver que haver complementação, o mundo não vai acabar.

As autoridades americanas - SEC e secretário do Tesouro - estão atentas aos problemas e acompanhando de perto o desenrolar dos fatos. A tendência não é colocar dinheiro público para aumentar o fundo ou socorrer bancos, pois isso precisaria de aprovação do Congresso, o que é um processo mais complicado.

Vamos ouvir falar mais sobre o assunto e continua mais do que nunca, valendo a lição; aquêles que ignoram os padrões de crédito para crescer e dar mais lucros, na maioria das vezes têm surpresas bem desagradáveis.

Crise tira até US$ 60 bilhões de bancos americanos

A manchete do jornal O Estado de São Paulo de hoje não deixa dúvidas que a situação dos bancos americanos continua complicada. Entretanto, se as perdas adicionais serão US$ 20 bi ou US$ 60 bi ainda ninguém sabe. O jornal informa que até 5ª feira a decisão precisa ser tomada, mas como hoje é feriado em NY não é possível confirmar.Em conversa que mantive com NY na última 6ª feira sobre esse assunto, me foi informado que, naquele momento, era impossível quantificar o valor dos "ativos nivel 3" ( esse é o problema), pois não havia mercado para esses ativos. Ninguém compra tais papéis, ninguém vende, portanto é impossível quantificá-los. De acordo com o " Financial Accounting Standards Board Statement 157" , as instituições financeiras podem contabilizar ativos a "nivel 3" quando o mercado não consegue, eficientemente, precificar esses ativos . Se o mercado é "eficiente" é uma decisão que o banco pode tomar; Em outras palavras, quando os ativos são "nível 3", os bancos podem efetivamente estabelecer o valor de tais ativos de acordo com seu próprio julgamento.


Os valores de ativos "nivel 3" são gigantescos em relação ao patrimônio dos bancos, e dependendo da decisão tomada (creio eu que a autoridade americana deverá estabelecer algum parametro, embora essa não seja a norma) os prejuizos serão gigantescos. Há banco de investimentos, por exemplo, que possue ativos "nível 3" superior seu patrimônio em 2,5 vezes.


É um assunto sério, que precisamos entender melhor antes de tecer comentários irresponsáveis e divulgar nome dos bancos com tais problemas. Esperamos voltar ao assunto amanhã, quando pudermos obter mais informações de NY. Por enquanto é aguardar que os mercados reajam mal a essa notícia, o que demonstra que o problema da "bolha imobiliária" dos Estados Unidos ainda não tem dia para terminar e nem quem serão os grandes perdedores. A verdade é que os presidentes da Merrill Lynch e do Citigroup já perderam seus cargos devido a essa concentração indevida num negócio de alto risco. Esqueceram dos padrões de crédito e, quando tal acontece, é dor de cabeça na certa.

Tem fumaça no ar !

O anuncio na 5ª feira da nova descoberta de petróleo na Bacia de Santos veio em boa hora, pois estávamos realmente precisando de boas notícias. Dependendo da nossa capacidade de investimentos e avanços tecnológicos visto que o petróleo e gás ficam abaixo de uma extensa camada de sal ( com o que não lidamos até agora ).Tendo êxito, ao redor da Copa do Mundo de 2014 estaremos aumentando nossa capacidade de produzir e exportar o “ouro negro” , passando a ocupar a 12ª posição no ranking mundial, logo abaixo dos Estados Unidos.

A euforia foi grande e merecida ( embora alguns afirmem que é notícia requentada ), mas a partir de agora voltamos aos nossos problemas do dia-a-dia que nos causam , por enquanto, uma ponta de preocupação. Temos fumaça no ar, que pode ser um cigarro aceso jogado ao acaso, ou o início de algo maior, mais preocupante.

A maioria concorda que o Brasil vai indo bem, crescendo, pois o mundo igualmente cresce e nos empurra para frente. A China ajuda com suas importações de commodities e os investidores inundam o país de dólares pois as oportunidades de ganho (empresas baratas, juros altos,estabilidade econômica, política e fiscal, etc.) são grandes. O problema é que no dia em que algumas dessas variáveis mudarem, o dinheiro vai embora na mesma velocidade que entrou.

Inicialmente, e talvez mais importante, são as perspectivas para a economia norte-americana. O presidente do FED afirmou no final da semana que o crescimento obtido até aqui não deverá se repetir no 4º trimestre assim como no 1º semestre de 2008.O problema do crédito imobiliário, ainda de acordo com Bernanke, se prolongará por mais algum tempo e a inflação vem sofrendo pressão indesejável. Alem disso os problemas com os bancos norte-americanos ainda não terminaram pois devem vir mais surpresas por aí. Como se vê é um quadro obscuro, e com os EUA andando de lado o mundo - talvez, com exceção da China - fará o mesmo. Assim, nosso principal motor - o crescimento mundial - pouco nos ajudará.

Não bastasse, o FMI faz duro alerta com relação aos gastos públicos do nosso governo. Segundo o Fundo, “o Brasil tem ainda um longo caminho pela frente em termos de melhora da sua situação fiscal”. Isto é, gasta mais do que deveria, o que faz com que a relação da divida pública e o PIB ainda seja bastante elevada.

Seguindo o mesmo caminho do Governo Federal , a maioria dos Estados estão deixando de cumprir a Lei Fiscal . Nada menos do que 16 estados gastam com pessoal mais do que a lei permite e, mais uma vez, nada acontece. O governo federal não corta suas despesas, e deixa de punir os estados que desobedecem a lei ( não esquecer que a Lei da Responsabilidade Fiscal foi um dos maiores avanços conseguidos até aqui). Para piorar ainda um pouco mais esse cenário fiscal, o Senado ameaça não aprovar a CPMF o que seria uma perda significativa de receita ( cerca de R$ 42 bilhões ) em 2008. As negociações continuam , os tucanos efetuaram um “laundry list” de 16 itens para que o governo cumpra em troca dos votos necessários, mas o certo é que essa negociação vai se arrastar ainda por algum tempo. Não é uma discussão econômica e sim uma batalha política. O que a oposição e as lideranças empresariais querem é impor uma derrota política ao presidente Lula.

Como o presidente Lula pretende fazer do etanol seu grande trunfo de curto prazo, temos barreiras sérias a enfrentar. Plantar cana, construir usinas e produzir o etanol sabemos fazer, e muito bem. O problema começa a existir quando temos que transportar o produto para o porto. Dentre 150 países analisados pelo Banco Mundial,o Brasil ficou em 61º lugar em ranking de logística comercial. Isto é, “enfrenta dificuldades para transportar mercadorias dentro do país e enviá-las para o exterior”.

Portanto, temos muito o que fazer para que a “fumaça” não seja apenas de um cigarro jogado irresponsavelmente no chão. Precisamos redesenhar o país, reduzir nossas fragilidades. Caso contrário o presidente Lula terá muitos motivos para reações acaloradas , como a da última semana quando questionado sobre o apagão do gás.