segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Tem fumaça no ar !

O anuncio na 5ª feira da nova descoberta de petróleo na Bacia de Santos veio em boa hora, pois estávamos realmente precisando de boas notícias. Dependendo da nossa capacidade de investimentos e avanços tecnológicos visto que o petróleo e gás ficam abaixo de uma extensa camada de sal ( com o que não lidamos até agora ).Tendo êxito, ao redor da Copa do Mundo de 2014 estaremos aumentando nossa capacidade de produzir e exportar o “ouro negro” , passando a ocupar a 12ª posição no ranking mundial, logo abaixo dos Estados Unidos.

A euforia foi grande e merecida ( embora alguns afirmem que é notícia requentada ), mas a partir de agora voltamos aos nossos problemas do dia-a-dia que nos causam , por enquanto, uma ponta de preocupação. Temos fumaça no ar, que pode ser um cigarro aceso jogado ao acaso, ou o início de algo maior, mais preocupante.

A maioria concorda que o Brasil vai indo bem, crescendo, pois o mundo igualmente cresce e nos empurra para frente. A China ajuda com suas importações de commodities e os investidores inundam o país de dólares pois as oportunidades de ganho (empresas baratas, juros altos,estabilidade econômica, política e fiscal, etc.) são grandes. O problema é que no dia em que algumas dessas variáveis mudarem, o dinheiro vai embora na mesma velocidade que entrou.

Inicialmente, e talvez mais importante, são as perspectivas para a economia norte-americana. O presidente do FED afirmou no final da semana que o crescimento obtido até aqui não deverá se repetir no 4º trimestre assim como no 1º semestre de 2008.O problema do crédito imobiliário, ainda de acordo com Bernanke, se prolongará por mais algum tempo e a inflação vem sofrendo pressão indesejável. Alem disso os problemas com os bancos norte-americanos ainda não terminaram pois devem vir mais surpresas por aí. Como se vê é um quadro obscuro, e com os EUA andando de lado o mundo - talvez, com exceção da China - fará o mesmo. Assim, nosso principal motor - o crescimento mundial - pouco nos ajudará.

Não bastasse, o FMI faz duro alerta com relação aos gastos públicos do nosso governo. Segundo o Fundo, “o Brasil tem ainda um longo caminho pela frente em termos de melhora da sua situação fiscal”. Isto é, gasta mais do que deveria, o que faz com que a relação da divida pública e o PIB ainda seja bastante elevada.

Seguindo o mesmo caminho do Governo Federal , a maioria dos Estados estão deixando de cumprir a Lei Fiscal . Nada menos do que 16 estados gastam com pessoal mais do que a lei permite e, mais uma vez, nada acontece. O governo federal não corta suas despesas, e deixa de punir os estados que desobedecem a lei ( não esquecer que a Lei da Responsabilidade Fiscal foi um dos maiores avanços conseguidos até aqui). Para piorar ainda um pouco mais esse cenário fiscal, o Senado ameaça não aprovar a CPMF o que seria uma perda significativa de receita ( cerca de R$ 42 bilhões ) em 2008. As negociações continuam , os tucanos efetuaram um “laundry list” de 16 itens para que o governo cumpra em troca dos votos necessários, mas o certo é que essa negociação vai se arrastar ainda por algum tempo. Não é uma discussão econômica e sim uma batalha política. O que a oposição e as lideranças empresariais querem é impor uma derrota política ao presidente Lula.

Como o presidente Lula pretende fazer do etanol seu grande trunfo de curto prazo, temos barreiras sérias a enfrentar. Plantar cana, construir usinas e produzir o etanol sabemos fazer, e muito bem. O problema começa a existir quando temos que transportar o produto para o porto. Dentre 150 países analisados pelo Banco Mundial,o Brasil ficou em 61º lugar em ranking de logística comercial. Isto é, “enfrenta dificuldades para transportar mercadorias dentro do país e enviá-las para o exterior”.

Portanto, temos muito o que fazer para que a “fumaça” não seja apenas de um cigarro jogado irresponsavelmente no chão. Precisamos redesenhar o país, reduzir nossas fragilidades. Caso contrário o presidente Lula terá muitos motivos para reações acaloradas , como a da última semana quando questionado sobre o apagão do gás.

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