sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Relembrando

No artigo abaixo "Exportar ou Comer" publicado no Estadão no dia 5/11/2001 procuravamos mostrar quanta falta de sorte ( ou conhecimento) do então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao afirmar que "nenhum país soberano, nenhum país que respeita seu povo exporta aquilo que falta na mesa do povo para comer". O artigo mostra como Lula estava errado na sua afirmação ( ou já "não sabia" ), pois nunca exportamos aquilo que falta para o povo. Graças às exportações em geral, inclusive "commodities" ,conseguimos superavits significativos que nos permitiram criar um colchão de reservas internacionais que hoje impede qualquer ataque significativo ao nosso real. Vale, pois, relembrar.


Veja aqui o "Espaço Aberto" do Estadão de 05/11/2001:

Quando há cêrca de um mês o presidenciável Lula declarou que só deveriamos exportar depois que o povo tivesse tomado café da manhã, almoçado e jantado acreditavamos que era mais uso de retórica, uma provocação ao presidente Fernando H.Cardoso que havia lançado o desafio “exportar ou morrer”. Frase de efeito que faria parte do jôgo político e do processo eleitoral visando as eleições de 2002. Seria uma simples amostra do que teremos que ouvir ao longo dos próximos 12 meses.

Entretanto, na medida em que êle voltou ao assunto - “nenhum país soberano , nenhum país que respeita seu povo, exporta aquilo que falta na mesa do povo para comer” - no lançamento do projeto “Moradia” há dez dias no Rio de Janeiro, aí o assunto passou a adquirir ares de seriedade. Ou o sempre candidato Lula realmente acredita que ao exportarmos alimentos estamos tirando-os da bôca do povo ou está induzindo a êrro o mesmo povo que êle tanto defende . E, em ambas as alternativas, é lamentável que isso aconteça.

Não há brasileiro que não o apoie no programa “Fome Zero”. Reduzir - ou tentar reduzir - a pobreza deste país é um ato louvável em qualquer circunstância.Embora alguns questionem a eficácia de tal programa, o fato de estarmos copiando-o dos Estados Unidos e assim por diante, o que importa é a intenção, prioridade a ser dada a essa grande demanda da nossa sociedade. Todos sabem que essa não é tarefa para um único govêrno mas chegou a hora de tratarmos do assunto com muito mais seriedade do que foi tratado até aqui, não apenas no Brasil mas , também ao redor do mundo civilizado. Não dá mais para assistir-mos pacientemente crianças e velhos morrendo do fome por não ter o que comer.

Quando êle fala que o dinheiro “se arranja” pois se foi possível disperdermos cêrca de R$ 30 bilhões no Proer não há pôrque duvidar-se que o govêrno possa dispôr de R$ 10 bilhões no combate a fome, temos que concordar . Certamente o Proer foi importante para a estabilidade do Sistema Financeiro e para a nossa economia como um todo mas não há como não ser simpático com a tese de que “em se querendo, se consegue”.Embora não será com mais R$ 10 bilhões que iremos eliminar a fome mas é um esforço considerável que temos que apreciar.

Entretanto, entristesse-nos profundamente vê-lo declarar que nossas exportações são responsáveis pela falta de alimentos na mesa do nosso sofrido povo. Uma inverdade que pode ser constatada em cada um dos milhares de super-mercados espalhados por este país . Com R$ 1,38 podemos comprar quantas latas de óleo de soja que queremos, com R$ 1,00 quantos litros de suco de laranja que tivermos a capacidade de tomar bem como com R$ 1,69 podemos comprar quantos quilos de frango que nosso estomago pode absorver. O que falta pois não é alimento e sim dinheiro no bôlso do povo para poder comprar o que êle necessita para viver dignamente.

Para que o poder aquisitivo do povo possa melhorar um dos caminhos é, exatamente, as exportações. Na medida que vendermos para o exterior algo como US$ 60 bilhões em 2001 estaremos gerando mais divisas - os dólares tão necessários para o equilibrio das nossas contas externas - e milhares de emprêgos.São brasileiros cujo ganha-pão vem da produção da soja, do plantio do café , da confecção de calçados ou da montagem de celulares. E como o que exportamos , especialmente na área de agro-industria , é excedente da produção não consumida internamente, ao deixarmos de fazê-lo estariamos prestando um deserviço ao país. Portanto, deixar de efetuar vendas externas de US$ 15 bilhões - valor previsto das exportações de agro-negócios neste ano 2001 - além de não colaborar para tornar a mesa do povo mais farta ajudaria, ao contrário, a eliminar mais alguns alimentos daqueles poucos que êle consome.

Como claramente constatado a opção “exportar ou comer” simplesmente não existe. O combate a fome e à pobreza , isto sim, é a única opção que temos para fazer do Brasil um país mais justo socialmente. E se Lula vier a ser o próximo presidente da República, que êle possa exercê-la com tôda energia. Esperamos, apenas, que para “arranjar” os R$ 10 bilhões êle não venha a copiar o govêrno Fernando H. Cardoso que para efetuar a devida correção da tabela do imposto de renda quer que os reais necessários venham do bôlso dos mesmos 12 milhões de patriotas que declaram anualmente imposto de renda neste país. Ou ainda como o govêrno PT de Marta Suplicy que como primeira importante medida esta elevando o IPTU dos habitantes da cidade de São Paulo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro senhor Alcides Amaral,
Permita-me tratá-lo assim. Respeitosamente o faço.
Sou um cidadão comum, classe média baixa, classe média-média, sei lá eu, tantas são as classes que existem nesse nosso país.
Talvez seja um equilibrista, pois entre os ricos, que já são ricos e portanto arranjados na vida e os pobres que já são pobres e nada tem a perder, estou eu, desejando ser rico e lutando para não virar pobre. Desempregado que sou há um bom tempo, sortudo por ter uma esposa aposentada com um salário razoável. Sustentamos, ou melhor, sustenta ela a mim, minha filha e nosso netinho de 5 anos de idade. Paga plano de saúde para todos nós e ainda, pelas minhas contas, deixa 3,2 meses de salário todos os anos para o imposto de renda. Não utilizamos nada do governo. A aposentadoria de minha esposa foi regiamente paga antes dela aposentar-se, com dois pedágios e tudo mais. O plano de aposentadoria dela sempre descontou na mesma proporção dos ativos, a porcentagem dos inativos. Portanto, nenhum privilégio. Sustentamos o bolsa-família, os mensalões, os sanguessugas e todas essas mazelas que infestam em nosso país. Enfim, sustentamos o país e somos tratados como elite, somos desprezados, vilipendiados. Sou um homem triste e a única coisa que me dá um pouco de alegria é minha família: minha esposa, maravilhosa, milha filha e a maior razão de meu viver, meu netinho querido, o meu Dudu. Para ele e tantas outras criancinhas como ele, eu gostaria de deixar um país mais justo. Mas já não tenho tanta esperança, tanta força, embora ainda tenha somente 57 anos de idade e goze de boa saúde, graças a Deus. Mas a tristeza, a desesperança com meu país, com meu povo está me vencendo. Digo tudo isso porque em sendo o senhor um homem de larga experiência de vida, poderia abordar de maneira profunda a situação em que nos encontramos nós, os classe médias, as elites, palavra tão em uso na boca de nosso presidente, do senhor José Dirceu, e de todos aqueles que fazem parte da base de sustentação do governo. Me sinto ofendido, queria reagir, mas não posso, não tenho como fazê-lo. Será que 3 ou 4 meses de salário todos os anos para o a Receita Federal, mais ICMS, IPI, IPTU, IPVA..., sem dar uma despesa sequer para o governo, para ele seus planos assistenciais, sustentar-se com desperdícios, cabides de emprego, negociatas, é pouco? O que querem mais de nós? Pelo amor de Deus, quais outros argumentos serão necessários para convencer essa gente que nós estamos no limite de nossas possibilidades.
Como tenho o hábito de ler somente aquilo que me acrescente conhecimento, me ajude no discernimento, lendo Augusto Nunes no JB de domingo, via a menção ao blog do senhor e de imediato anotei para acessá-lo.
A internet e eu ganhamos mais um excelente "blogueiro". Que bom! Me permitam agora,Reinaldo Azevedo, Noblat, Josias de Souza, Diego Casagrande, Fernando Rodrigues, Claudio Humberto e Olavo de Carvalho que eu desvie a minha atenção também aos comentários do senhor.
Atenciosamente

Anônimo disse...

Caro Alcides,

Parabéns.

Gostei do artigo e do blog - já o coloquei na pasta dos favoritos.

Sucesso.

Um abraço,

Troster

Anônimo disse...

Parabens Alcides

Que bom que poderemos ler seus preciosos comentarios que nos ensina muito

E parabens tambem para sua equipe de apoio

Abracos

Vitor Ramos

Anônimo disse...

Caro Alcides,
É com satisfação que soube o inicio de seu blog e ao lê-lo pela primeira vez notar que a sua capacidade de falar em português que pode ser entendido pelo cidadão comum e mostrar as mazelas deste governo que é uma cópia muito ruim da segunda presidencia FHC continua intacta.
Já está tambem nos meus favoritos.
Um abraço de sampaulino.....