terça-feira, 4 de março de 2008

Tudo pela inflação

É de elogiar-se o empenho do governo em manter a inflação sob controle. Nosso objetivo é termos uma inflação de primeiro mundo, e lutar por ela. O Banco Central não faz outra coisa, tanto é que o presidente Henrique Meirelles, que sempre foi conservador com relação a taxa de juro (Selic) e muito criticado no passado, hoje não aparece mais nas páginas dos jornais para responder aos costumeiros questionamentos. Nossa taxa real de juro é uma das maiores do mundo, atrai muito capital especulátivo, mas o que "importa" é que a inflação está sob controle.

Tudo seria muito bonito se o "controle" da inflação ficasse por aí. Com o dólar utilizado como âncora (preços importados mais baratos forçam queda dos preços dos produtos produzidos localmente) , o real já é a moeda que mais se valorizou em relação do dólar, o que não tem lógica alguma. O que fizemos de diferente nesses últimos anos em reformas, fortalecimento dos pilares da economia etc. para justificar tal performance ? Muito pouco , quase nada, O governo manteve a responsabilidade fiscal ( embora ele, governo, continue aumentando seus gastos acima da inflação) e não fez nada que criasse preocupações lá fora. O governo Lula tem a cara do governo Fernando Henrique Cardoso no que diz respeito ao relacionamento externo e todos estão muito felizes.

O real valorizado em excesso está começando a criar problemas para a balança comercial, pois o superavit comercial de fevereiro é o menor desde junho de 2002, isto é, apenas $ 880 milhões contra $ 3,32 bilhões em 2007. Ai importações crescem em ritmo acelerado enquanto as exportações comportam-se como o último vagão do trem. E a medíocre performance das exportações é devida ao câmbio irreal, pois muitas empresas locais não conseguem mais competir com produtos importados, especialmente chineses. Milhares de empregos foram perdidos na área textil e calçadista, e muitos outros setores serão igualmente duramente afetados caso o panorama continue o mesmo.

Agora, a última notícia dessa política "tudo pela inflação o resto a gente vê depois", foi o resultado exibido ontem pela Petrobras, quando os lucros cairam 17,0% em relação ao ano anterior. Essa companhia que é um dos orgulhos deste país, também sofre com "tudo pela inflação". Embora o governo venha com várias explicações para justificar esse resultado negativo, a verdade é que o preço da gasolina e do diesel não sofrem aumentos desde 2005 embora o preço do barril do petróleo tenha atingido a marca história de mais $ 100.00. E todos sabem que mais de 50% das receitas da Petrobrás estão diretamente ligados aos preços do diesel e da gasolina. É lamentável que tal aconteça, pois a Petrobrás necessita de mais recursos para investimentos adicionais, pois o nosso solo oferece excelentes oportunidades de nos tornamos um grande produtor de petróleo e gás.
Mas, como um aumento do preço da gasolina e do diesel (todo o transporte no Brasil é efetuado em cima de 4 rodas ) jogaria um pouco de lenha na inflação, o governo vai empurrando com a barriga.

Nossa sorte ( ou sorte do presidente Lula e do ministro Mantega) é que as commodities continuma nos dando alegria, e quando a safra da soja começar os resultados serão diferentes, para melhor. Os preços desse produto estão lá em cima, tudo parecerá muito bonito como no mar de Abrantes.

Temos, pois, que continuar torcendo para que a economia norte-americana não mergulhe na recessão e que a China continúe comprando nossas commodities.

Embora não seja economista e sei que hoje a situação externa do Brasil é muito melhor do que aquela que tivemos nos últimos 20 anos ( reservas internacionais acima de $ 190,0 bi oferecem um conforto que nunca tivemos) , não me agrada nenhum pouco ver a "política cambial" ( ou falta dela ) ser utilizada para resolver todos os problemas relativos a inflação, pois não há bem que sempre dure e mal que nunca acabe. Um dia , aí pela frente, essa conta será paga....e espero que não fique cara demais.

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