segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Relembrando

Neste artigo publicado no Estadão no dia 30 de junho de 2003 abordávamos as dificuldades que o presidente Lula, com 6 meses de mandato, estava encontrando para administrar o país. Dizia ele que “as coisas são mais difíceis do que a gente imagina” e pedia paciência ao povo pois já começava a haver cobranças pelas promessas eleitorais.

Certamente que administrar um país como o Brasil não é tarefa fácil mas, como afirmo mais uma vez no artigo, minha vivência profissional ensinou-me que “sentou na cadeira os problemas são seus”. E é isso que finalmente o presidente parece estar fazendo pois não se houve mais falar em “herança maldita” e “não sabia”. Vale, pois, relembrar.



A difícil arte de governar


“Ninguém tem mais paciência no
mundo do que o pescador, um bom
pescador , porque aqueles apressados
ficam cinco minutos e já caem fora,
achando que não vai dar nada”

Presidente Luis Inácio Lula da Silva



Durante os seis primeiros meses de seu governo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já manifestou publicamente , várias vezes, que “as coisas são mais difíceis do que a gente imagina” bem como pediu paciência ao povo antes de cobrá-lo pelas promessas de campanha. O presidente Lula não está errado em pedir mais tempo assim como aqueles que o elegeram estão certos em demonstrar ansiedade pela falta de horizontes no que diz respeito a emprego e salários.


Inicialmente, embora do outro lado do balcão, minha experiência de mais de 15 anos lidando diretamente com o setor público ensinou-me que não basta o Presidente da República, o Ministro ou o Presidente do Banco Central apertarem o botão para as coisas acontecerem naturalmente. Muitas vezes o chefe de departamento ou aquele burocrata do 2º e 3º escalões demonstram possuir mais poder pois são eles que colocam os processos no fim ou no começo da fila e os encaminham. Portanto, não é de se estranhar as críticas com relação a morosidade com que os ministérios estão liberando as verbas - pequenas, é verdade - à sua disposição . Igualmente o descontentamento com a evolução do programa Fome Zero é visível e compreensível. Afinal, esta foi a maior bandeira na área social do governo.


Na medida que o presidente Lula recorre a Ernest Hemingway para lembrar seu livro “O Velho e o Mar” e pedir a paciência do pescador para ver seu sonho realizado, encontra a reação natural daqueles que , desempregados e desamparados, já perderam seis meses à espera que seus problemas sejam resolvidos. É fácil termos a paciência do pescador, ficarmos horas à espera do peixe pegar a isca quando sabemos que temos, em casa, o arroz com feijão na panela e o trabalho para enfrentar na 2ª feira. Não é a mesma coisa solicitar-se tal comportamento daqueles que esperavam encontrar três refeições por dia para satisfazer as necessidades de seus filhos e ainda nada aconteceu.


Não dá, portanto, para desprezar as dificuldades da arte de governar num país de dimensões continentais como o nosso mas com problemas de igual grandeza. Entretanto, é bom que se diga que o presidente Lula ainda não teve que enfrentar nenhuma grande crise como aquelas que tem sido habituais nos últimos anos e décadas. Com exceção das pressões do seu próprio partido - radicais, conservadores, etc - tudo transcorre com relativa tranquilidade no nosso País. Nenhuma nova crise externa nestes seis meses de governo, FMI só elogios para o presidente Lula e seu programa de governo, mercados favoráveis, risco Brasil abaixo de 800 pontos e reservas internacionais acima de US$ 53 bilhões . Em que pese a pressão para redução dos juros e retomada do crescimento econômico , no linguajar do mercado vivemos um cenário próximo a “céu de brigadeiro”.


Como se vê o presidente Lula não deveria estar tão aflito com as dificuldades até aqui enfrentadas pois os desafios, aí pela frente, serão bem maiores. As disputas políticas se acentuarão por ocasião das discussões da reforma da Previdência o que exigirá pulso firme e muito jogo de cintura do Presidente e sua equipe de governo. A mesma paciência que é solicitada do povo deverá fazer parte do seus constantes pronunciamentos - o “ataque” ao Congresso e Judiciário foi, pelo menos, inoportuno - bem como fazer com que reaja as críticas recebidas com firmeza mas com equilíbrio e não voltar aos velhos tempos de campanha como fez recentemente ao rebater entrevista do ex-presidente Fernando H.Cardoso que criticava o excesso de conservadorismo do programa econômico do seu governo. Serão , pelo menos, mais três anos e meio árduos mas a expectativa do brasileiro é ver seu sonho de viver num país mais justo realizado e , para tal, contamos com a liderança e bom senso do presidente Lula.


Mãos à obra, pois. A recente visita aos Estados Unidos demonstrou que , quando quer, nosso Presidente posiciona-se como verdadeiro estadista mesmo diante do representante máximo da maior potência enconômica e política do mundo. A polêmica e difícil discussão sobre a Alca foi tratada com maturidade independentemente dos sérios entraves que terão que ser eliminados até sua implementação.


E assim é que deve ser. Aprendi, também, ao longo da minha longa vivência profissional que , sentou na cadeira, os problemas daí para frente são seus. Não importa a dimensão , gravidade, quem os tenha criado. Somos pagos para resolvê-los e não para ficar apontando de quem é a culpa ou lamentar as dificuldades encontradas. Creio que o mesmo princípio vale, também, para qualquer função executiva, inclusive do Presidente da República. Insistir em dizer que “é difícil” e o “país está quebrado” em pouco ou nada ajuda. O que o povo quer é que os problemas sejam resolvidos e ele conta com o presidente Lula para fazê-lo, daí seu indíce de popularidade superior a 80%.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr. Alcides parabéns pelo seu Blog, pelo sucesso!!Em tempo: a matéria do CIEE ficou excelente.

Abraços,
Heloá